quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Tesão no teu nome

Que bom que não te conheço
Que lindo nossos desencontros
Não saber tuas preferências
Nem teu sorvete favorito

Esse desconhecimento, que faz cada encontro ser o primeiro
O ciclo comprido que se repete em uma vastidão de dias
Eu estico a prosa
Fazendo versos

Não sei teu gosto por poesia
Pode ser nenhum
Mas eu escrevo até para as pedras
Me encanto fácil pelo silêncio

Bonitos nossos passos desencontrados
Essa coisa de não saber o que é
Perdidos não só no tempo, vagos no mesmo espaço
Que tesão é praticamente só saber teu nome

Trilha sonora:
"Até que nada aconteça, somente eu e você, no mundo da minha cabeça"
No dia que você chegou - 5 a seco 

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Ah, matemática!

Venho pensando esses dias em qual seria minha luta diária. Logo eu que optei pelas humanas e sociais tenho calculado muito nos últimos tempos. Já estou até calculando quantos parágrafos irei escrever para que esse texto não se alongue tanto. Ando não olhando mais dez dedos nas mãos, mas contabilizando dez possibilidades de lembrar o que tenho que fazer.

Tenho lutado muito para ser um número. Uma estatística bem sucedida traduzida em uma placa, um placar, um cartão ou em um telefone. Estou traçando sagas numéricas em inscrições, quantidade de páginas e referências. Ah, matemática! Como eu te odiei. E hoje você vem me dando esse troco. 

Tempos paradoxais e metafóricos. Fulguram as figuras de linguagem para dizer o não-dito. Perco-me em calcular o que não sei somar. Divido-me em tantas, subtraio meu eu e multiplico horas sem excitação. Em meio há tantos números, eu só queria ter com quem contar.

Trilha sonora: Luz Antiga - Nando Reis

domingo, 2 de novembro de 2014

Sobre sair de casa sem esperar



A poesia está escassa
Muita rotina
Pobre menina
Era isso que sonhavas 

Um despertador
Uma bolsa pesada
Muitas faturas
Que te fraturam

Era isso que queria
Um cronômetro zerado
Ligado ao primeiro suspiro matinal
Um cronômetro que luta contra si

Esperou muita coisa
Cronometrava a cada passo
Quanto tempo dura essa amizade?
Por quanto tempo faremos juras de amor?

Esperou pelo dia do "sim"
Espantou-se no dia do "não"
Já cronometrava o fim
Isso não foi uma surpresa
(consolava-se)

Libertou-se do cronômetro
Só não queria que o tempo se fosse
Olhou pro lado, sem ressalvas
Tirou o véu e viu um sorriso

Você sempre esteve aqui
Mas o relógio tornava seu pulso inebriante
Queria ser o teu relógio
Contar teu tempo e fazê-lo meu. 

"O acaso é amigo do meu coração" - "Velho e o Moço" - Los Hermanos

domingo, 19 de outubro de 2014

Com que roupa eu vou, pro samba que você me convidou?

Passei muito tempo pensando em quais seriam as legendas das nossas fotos. Se usaríamos nossas músicas favoritas ou citaríamos os filmes que amamos assistir. Cronometrei o tempo do abraço, separei a roupa para debutar e fiquei na dúvida se estaria de óculos ou não. Muito chato andar nessa cidade marcada com outdoors que escancaram nossa campanha bem sucedida de companheirismo. Mas tudo isso de certa forma já passou.

O que nos alimenta deve ser uma dessas barras de cereal diet, que não enchem a barriga de ninguém. E olha que um dia pensamos em viver de amor. De certa forma, não estamos preparados, nossos sonhos estão bem mais fortes e próximos separados. Vemos o nosso encontro com um encaixe, em uma rotina onde sobra pouco tempo. Em um check-in distante, numa moldura 3x4, congelamos nosso melhor momento. Como essas bandas que terminam no auge pra deixar mais saudade nos fãs. Que bestas nós somos! Não aguentaríamos o peso de uma turnê.

Guardei o pôster, o single na fita, o autógrafo em forma de beijo. Esse amor só precisa de uma boa gravadora que banque essa loucura. Produzido pelo destino, com clipe em câmera na mão e com "refrão pra levantar o bloco", esse amor ainda vai dar samba! Com banda indie e pedra de reponsa porque amar exige um certo desalinho. 

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Desconfie da Calmaria

Nunca me encantei pelo certo, só quando me parecia errado. Visivelmente tenho feito escolhas certas na vida. Nada fora do normal, nem um processo a ser respondido. Tirando a minha multa na biblioteca, é claro. Tenho estado normal, em uma sanidade que me leva à loucura. "Estranha Loucura"  - na voz marcante, grave e imponente cantada pela Marrom. Meus ciclos abrem e fecham sem nenhuma surpresa. Conheço cada figurinha do meu horário no ônibus e me emputeço com um alheio que perde o horário do seu e ocupa minha cadeira. Tenho preenchido relatórios, respondido e-mails e uso o wi-fi sempre que impossível. Nossa, que vida de montanha russa. Mas ela anda quebrada faz tempo. "Tolice é viver..." Qual é a música, Pablo? A música é lenta. A melodia incomoda quem nunca gostou muito de rio. Sintomas de Moska, de móbile (...) Qualquer calmaria me dá solidão!

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Má e Fada

Vamos considerar que todos cultivam sonhos. E na maioria das vezes eles são resultados da nossa própria inquietude. Porque a sorte de ser mediano, também é a frustração em não ser nada demais. Seres apolíticos envolvidos na política que é simplesmente existir. A existência é um acordo vital. Pena que muita gente nega o próprio respirar.


Faz-me gostar de vestidos vermelhos, ainda que odeie a cor. Inspira cortes de cabelos e enfeites de laço, ainda que não sejam esteticamente perfeitos ou aceitos. Não espera aceitação e consegue a proeza de gozar do próprio ridículo em uma crítica sagaz de nós mesmos. Sem parecer cruel ou má, mas sendo-a. Porque o mais cruel é quem faz do beliscão afago.

Para uns um marco da cultura pop. Outros tantos a consideram apenas uma campanha publicitária fracassada. Mas onde está o fracasso? No pouco entendimento que temos de suas colocações? Ou na sutileza com que nos mostra o que somos sem cobrar que sejamos melhores, mais quem sabe apenas menos ridículos?

Quem hoje não se importa com peso? Alguém audacioso enfrenta a família e seus ideais sem preocupar-se com as retaliações na mesada ou na roupa lavada? Quem mistura má com fada em uma dicotomia de serenidade e assertividade no que diz?


Quando estou em crise, me apego à Mafalda. Porque talvez a minha vontade seja habitar em uma tira. O que será escrito no meu balão? Não sei. Mas nos dela foram escritas algumas das poucas certezas que tenho na vida. São muitas as aspirações humanas, mas considero manter a atualidade uma das proezas de nossa natureza. Prever o futuro? Viver no passado? Uni-vos! Mafalda mantém-se viva e pulsante, porque Belchior já previa: “ainda somos os mesmos e vivemos”.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Não passa, primavera



Prima da Vera
Primavera
Uma nova idade
Cores e flores espalhadas pelo caminho

Um ar mais sereno
Atmosfera amena
Fim de ano
Coisas acometidas pela bondade

Tema de música
Poesia de buquê
Flores mortas ou de plástico
Bailando como enfeites de mesa

Primavera que vem e vai

Que leva e traz amores de outrora
Espanta-me que tu comemores
Pois já não se abaixa para sentir perfumes

Não passa, primavera
Sem me deixar um alento
Colo protegido ou uma cor quente
Deixa-me uma pétala de esperança


"Quem me dera poder, consertar tudo que eu fiz".
Primavera - Los Hermanos

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O dia que desci antes da parada

Tem dias que começam cansados. É a soneca esticada que apita e ensurdece o quarto todo com o barulho da responsabilidade. São os raios de sol que entram pela porta em um das mais velhas estratégias das mães, que é acender a lâmpada bem na sua cara. Alguns vão dizer: nossa, ainda precisa de mãe pra acordar? Digo-lhes: os gritos maternos são mais eficientes e acolhedores que bipes de smartphones. E sim, é uma visão romântica. 

Tem dias que ônibus está cheio demais, mas a lotação é a mesma de sempre. Tem dias que não é suportável a falta de educação e/ou gentileza das pessoas em pegar sua mochila. Tem hora que não dá pra aguentar as pessoas que insistem em se esfregar de forma abusiva nas suas costas, leia-se bunda. Enfim, tem dias que não dá. Era pra ser aquele feriado que você teria abertura de escolher um dia no mês para simplesmente mandar um sms pro chefe com a seguinte redação: hoje é meu feriado, pelo simples motivo de “não sou obrigada”. 

São dias fuzilantes em que a ruga não sai da testa. Em que o “bom dia” soa mais falso que nos outros dias e que o calor dobra na cidade litorânea. Muitos irão dizer: mais um depoimento rabugento de quem não sabe viver a vida. “Viver a vida”, se fosse a novela de Manoel Carlos seria tão bom. Leblon, café na praia e cafezinho na livraria. Tão bom não conhecer os dilemas das pessoas além do simples fato de “com qual dos gêmeos ficar”. A inquietude de viver dias como esse traz um pouco de lucidez maluca. Atrasada, bolsa pesada, calor. Vou descer da budega desse ônibus. E o atraso? Só vai alongar. Bom para os músculos.

Desci. Agora vou escutar minhas músicas mais agressivas, vou focar naquele cheiro de mar que encontro todo dia naquele ponto, no cafezinho da tia e na água gelada do bebedouro. Olha, tem coisa boa depois daqui. Às vezes é preciso ter coragem de descer da condução, deixar de ser sardinha, corrimão de escada. Depois de fantasiar vários desaforos que eu iria falar hoje, eu me renovo. Porque sei que nenhum deles valeria à pena e me marcariam de forma ruim e agressiva. Simplesmente desci e deixei a vida continuar naquela lotação. Porque muitas vezes o esforço imenso que empreendemos para nos sentir parte de um mundo não corresponde à grandeza de mundos que temos em nós. Desça antes do ponto. Não perdemos por esperar.

Próximo. 

Trilha sonora: "Último pôr-do-sol" - Lenine
"Eu fiquei sentindo saudades do que não foi". 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Todo mundo sorriu

Com comédia perco tempo
Faço tempo
Dou um tempo
Tomo o tempo

Comédia para tristeza
Comédia de paixão
Comédia de suspiro
Comédia romântica

Um eu te amo simples
Um eu te amo pouco
Te amo seco
Te amo pra *aralho
(censura)

Tudo por nada
Tudo que salva 
Queda livre 
Chão macio

No dia que o cinema sorriu
Não foi pra tela
Foi pra ela 
A moça que caiu

Desajeitada
Embaraçada
Perdida no filme
Comédia ambulante

Na algazarra
No riso da queda
Na chacota da vida
A grande atriz é ela

Trilha sonora: "O que não é de mim" - Lamy. 

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Qual a nossa tatuagem?


Ainda bem que não somos de planos. Não cabe bem em nossas defeituosas gaiolas. De um equilíbrio que corteja a insanidade, nunca foi fácil essa paquera. Queremos pouco de nós mesmo, talvez uma mudança no andar, um lugar para não mais freqüentar, um livro para não ler. Tão pequena é a nossa caixa de certezas. Talvez amanhã nos daremos bom dia ou ensaiaremos um diálogo que renderá pouco.

Queremos muito pouco. Foi difícil compreender que não nos expressamos apenas com palavras. A minha zona de conforto é de caneta, papel e lápis. Estou começando a digitar e justificar textos. Acredito que justificar vai além de um recurso em programas textuais. Tentar justificar talvez seja meu maior erro. Exigimos muito pouco. Menos dor de cabeça em uma cabeça que já vive na lua.

Nossas árvores não são iguais. Uma seca, com poucos frutos. Uma com muita sombra, frutífera e cheia de balanços. Balançar. É o que fazemos todos os dias. Balanço no ônibus, balanço em largar o trabalho, balanço ao pensar em não te responder. Balanço em fazer declarações. Mas continuo de pé. Esse é o meu balanço. Nunca foi tão fácil misturar água e vinho. Economizamos na ressaca. Ressaca moral, ressaca de beijo, ressaca de palavras que nunca apareciam na hora certa.

Não gostamos de relógio, tão pouco de rotina. Quem disse que não podemos nos divertir na segunda? Almas em devaneio. Não sabem o que esperar. Quem ganhou com a nossa preservação? Árvores extintas, sem solo definido. Flutuantes. Sempre parece difícil falar. Economia de português. Não espero mais cartas, nem fotografias. Fizemos uma tatuagem. Colorida, com traços finos e uma frase: um dia vamos nos encontrar e retocá-la.


Trilha sonora: "Que é pra te dar coragem, pra seguir viagem, quando a noite vem"
Tatuagem - Chico Buarque. 


sexta-feira, 25 de julho de 2014

Dança de uma (quase) paixão



Tentava

Como tentava 
Tão cortês quanto no século 19 
Minha dança te chamava 

Nunca acertávamos nossos passos 
Dois pra lá 
Três pra cá 
Não dava pra dançar agarradinho 

Clientes de vários bailes 
Eu com minha turma 
Tu com todos do baile 
Dançávamos. Um em cada ponta do salão 

Quanto aos meus passos 
Muitas críticas 
Pra ti, eu dançava em falso 
Sempre me acusa de pisões no teu pé 

Me espanta a tua audácia 
De reclamar da minha valsa 
Como se comigo formasse um par
Blá, blá, blá 

Dos bailes dei um tempo
Principalmente quando és convidado 
Ninguém pode me obrigar 
Não sou muito fã de espetáculos 

A gente dança funk 
Bolero apaixonado 
Reggae de velhinho - "Beija - me muito" 
My Love, eterno amor 

Nossa valsa não faz parte de companhias 
Também não parece dança contemporânea 
É um clássico moderno 
Do bailar entrelaçado, sem rostos colados 

E por fim 
Nunca somos nosso par. 

Trilha sonora: "É a dança da nossa paixão"
Bambayuque- Zeca Baleiro

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Pequeno conto de Joana

Joana andava em vão pelo globo. Muitas pessoas, sensações e estados de espíritos. Ela não precisava de limites, tão pouco se interessava por matemática. Suas somas sempre andavam dando errado. Parcela, parcela, soma sem total. Joana era zorra. Pouco se importava com água mineral. A guria que sonha ser mulher recuou. Beira de abismo. Um passo e poderia ser fatal. Joana acreditou em seres estranhos. Muitos “alt+3”, “menor que+3”, “s2”, “sz” e poucos corações. Joana pegou a sua mochila e foi. Usando menos gráficos e mais atitudes.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Deixando promessas pra lá


Ando descumprindo promessas. A jura de saudade se foi. O abraço da falta virou convenção. A eternidade de amar, ficar junto ou conversar sem parar em uma volta pra casa também vai indo. Ando preferindo fone de ouvido, sessões solitárias e pedir um copo ao invés de um litro me parece não só econômico, mas soa confortável. Descrente em Tom Jobim,“vou te contar”. Fundamental é mesmo o que?

Tudo em desordem. E ninguém pode mais com isso. Todo mundo sabe a hora que eu saio, quando eu volto. Qual é a minha calça pra cada dia da semana. Ninguém tem mais segredos. Contamos por convenção, caracteres ou simplesmente pela vontade de não sermos mais mágicos. O que você tem pra dizer ninguém quer saber.


Evitando passagens de volta. Porque parece que cada dia é mais chato voltar. Voltar pra mesma coisa, pra mesma mesa, pro mesmo papo. Vida difícil essa de quem tem CEP. Mas se não tivesse, talvez fosse pior. Talvez. Coisa chata e amarga. E agora é o que mais sai da boca. Cansaço. Cansada de tentar adivinhar o que as pessoas querem. Preferem reclamar do leite derramado, a ter que avisar que ali existe algo fervendo. 

Todo dia eu deito, paro, penso. Aquela velha análise entre insônia e travesseiro. Sempre digo – acabou - isso não é pra mim. Juras em grupo, para parecer mais forte e convencer os outros ao invés de si. Mas como falei, “ando descumprindo promessas”, por que nada é mais empolgante que burlar previsões. Cada um vai sendo como pode, já alertava os “Novos” e sempre atuais “Baianos”. Desculpa qualquer coisa, mas é difícil não decepcionar. Cada um escolhe um “eu” pra si. Muitos fantasiam, outros apostam alto.

Não quero perder nada na bolsa. Já larguei a loteria. Acertar alguém ou acertar sobre esse alguém anda mais difícil que baú da felicidade. Culpa da gente, que procura a felicidade no acerto de números. Distrai, que é bom. O acaso gosta. Não só distraído, mas displicente. Quem irá me proteger? As pequenas “despromessas”. Não te prometo nada, agradeça por isso. Nunca quis ter a felicidade em minhas mãos. Inventar uma chuva no verão ou sentir um frio no calor do sol depende de nós. Tudo muda e surpreende. Maldade sua querer a gente sempre igual.

Trilha sonora:
"Mentiras sinceras me interessam"
Maior Abandonado - Cazuza. 

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Realinhando infinitos


“Eu queria fazer um texto sobre A culpa é das estrelas, mas eu não consigo”. Essa foi uma das primeiras coisas que consegui falar depois de assistir aquela lindeza. Sabe aquela sala cheia de marmanjo que mesmo com seus vinte e poucos anos não tem vergonha de soluçar alto em uma sessão de cinema? Esse foi o cenário da exibição de ontem. Entre pessoas que já tinham lido o livro e outros que foram arrebatados pela doçura daquele trailer, a tarde foi de respiração ofegante.

Tudo foi milimetricamente programado. Não tinha cadeira suficiente para sentarmos juntos. Então foi assim: cada um no seu assento, cada um com a sua dor. E olha, eu aconselho que você assista ao filme assim, sozinho. Escutando o próprio choro e a cada passar de película, mesmo com a visão turva, nada apagará a beleza de ouvir belos diálogos e contemplar lindos personagens.



É muito fácil sentir pena de alguém. Também é um pouco ridículo. Parece que o sistema produz vítimas em série. Vítimas da violência, da alimentação, das drogas. O mundo sabe fazer vítimas como ninguém. Hazel e Gus eram vítimas, não por escolha própria, como qualquer “bom” sofredor, mas por destino. Às vezes, por uma brisa errada ou por escolher outra rua pra andar hoje, o sistema nos dá um sopro de livre arbítrio. Foi em um desses sopros que Hazel e Gus pela primeira vez na vida puderam escolher ser vítima. Juntos se tornaram vítimas do amor. 

Coisa louca é ser fã de alguém. Viciar-se em um livro, um cantor, uma música a ponto de aquilo representar seu estado de espírito. Coisa louca é apaixonar-se. E um dos primeiros sintomas da paixão é abrir mão daquilo que se é fã. Entenda que “abrir mão”, não é sucumbir suas vontades pelo outro. Mas é de tal forma apresentar e acrescentar aquela pessoa ao seu mundo. Hazel tinha o mundo de Peter Van Houten como escapismo ou paixão – Uma aflição imperial, Gus começou a fazer parte desse mundo, lendo-o. Gus tinha o mundo no seu quarto, “bem-vinda, Hazel. Essa é a Agustolândia”. No dia em que o coração começa a bater descompassado já não faz sentido ser fã sozinho. É preciso ser uma dupla de fãs. Hazel e Gus formam uma bela dupla, vocês sabem/saberão por quê. 

Ter medo da morte é tão comum. De certa forma é como queimar uma vida no jogo, afinal ela é a única certeza. Medo do esquecimento. É um medo aceitável pra quem sempre teve o sonho de escrever e viver uma bela história. Frustrante não ser super-herói, mas podemos ser “super-pessoa”. Temos tantos poderes. O poder de encantar com um sorriso, esquentar com um abraço, amar com os olhos. Por muitos dias Gus amou Hazel apenas com um sorriso ou com um O.K. Por uma eternidade Hazel amou Gus com o simples repouso da sua cabeça em seus ombros ou com o mesmo O.K. 

Sobre A Culpa é das Estrelas, não é preciso ser rápido ou devagar demais. Pra ser história de amor, não precisa do primeiro beijo, pra ser verdadeiro não precisa que os outros vejam (Isaac sabe disso). Eu escolheria “Biquíni Cavadão” como trilha dessa história. Afinal, “quanto tempo demora um mês”? Tempo na tela. Antes que chegue a passagem de volta ou quando não houver escolha entre ser ou não ser vítima fatal, tenha orgulho de dizer em cada pré-funeral: eu já morri de amor. “Alguns infinitos são maiores que outros”, que bom. Você viverá uma vida em 90’. 

Viva!

Trilha sonora: A trilha tá no texto! rs

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Milhas e milhas perto de mim

Saudade da mesma pessoa
Que não se foi
E continua a mesma
Milhas e milhas perto de mim

Saudade da conversa fluida
Entendida e revisada
Que rendia
E se encontrava para o fim com riso no final

Saudade de discordar
E concordar no final
De vagar sem medo
Com boa noite e se cuida pra dormir

Saudade de especular
De sonhos possíveis
De desejos de boca
Da falta de fome ao teu lado

Saudade da mesma pessoa
Que falei no começo
E que hoje não conheço o final


Trilha sonora: "Dia após dia" - Yute Lions

terça-feira, 29 de abril de 2014

Hoje eu quero voltar sozinho, certeza.


Tenho me perguntado sobre a necessidade de simplicidade nas coisas. Questiono-me o porquê de não está com sandálias, short jeans e regata branca agora. Estou cheia de sono e sonhos, não sei se na mesma proporção. Há momentos em que pedimos aventuras e não deixamos de lado um bom drama para entrelaçar essas narrativas. Nada é mais frustrante que expectativas. Sempre nos levam a um poço de cobranças e vontades que não nos acrescentam em nada. 

Certa vez, um sábio urbano me disse: “Você é aquilo que acha que os outros pensam”. Isso sempre martela na minha cabeça e vive indo entre a lista de verdade absoluta ou mentira completa. A verdade mesmo é que todas as vezes que me achei insegura, alguém sempre concordou. Então venho me sentindo segura para que não hajam mais falas sem certeza. A mudança começa de casa. Cérebro e coração abrigando certezas para caminhos menos tortuosos. 

Várias maneiras de pensar um filme. Uma constatação. “Hoje eu quero voltar sozinho” balanceia som e silêncio, mostrando que no "calar" de cada ser há uma música sendo tocada. Por que é tão mais fácil acomodar suas certezas? Quando acomodamos uma idéia assinamos sua carta de despacho do combate. Seriam certezas ou meias verdades que acreditamos para aprisionar nossos medos? A mãe de Léo não acreditava mais na sua dependência. Apavorou-se. E acomodou a sua certeza sufocando quem mais amava. 

Léo tinha certeza que tudo seria perdoado por Gi. Acomodou suas desculpas. Machucou quem mais amava. Gabriel não acomodou sua certeza de que Léo precisava fazer as pazes com Gi. Não aceitou sucumbir o seu desejo de ser mais que amigo do seu melhor e mais novo amigo. Gabriel foi aventura, não fez drama e conseguiu tudo que queria. A música do filme é outra, mas Cícero bem que poderia dar uma palhinha: “Cuidado que eu mudei de lugar, algumas certezas”. 

Foram as mudanças de certezas desse trio que fizeram essa história tão mágica e doce. Eu mudei uma certeza. Eu odiava abraços, mas poderia abraçar cada um que estava naquela sala depois que os créditos subiram. Quanto ao balanço de silêncio e som, “Hoje quero voltar sozinho” é brilhante no silêncio. Com uma película de harmonia e leveza, deixa que cada um escolha sua trilha. Seja a de pés no chão ou de ouvidos abertos. Não saber dessa gente toda, dessas coisas todas pode ser um alívio. Saiba apresentar seu mundo, sem a certeza de aceite. Um dia juramos não conseguir andar de bicicleta, no outro levamos alguém na garupa.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Artificial

Acordei artificial
Pouca verdade por perto
Ressaca do primeiro de abril
Uma nota de três reais na carteira

Meio blasé
Meio modinha
Aquela angústia de todo dia
Acordar, trânsito, coisas pra fazer

Com vontade de ligar
Mas sem coragem
Vou falar o que?
Estava fazendo o que na hora da chuva?

Escrevendo sem retorno
Pelo menos empírico
Escrevendo estilo boteco
Na hora parece tese, mas é só chopp

Senta aqui, tô sem café
Pra ser sincero, ontem estava ouvindo engenheiros
“Infinita Highway” pareceu conveniente
Pra quem está na beira da estrada


Trilha sonora: "Infinita Highway" - Engenheiros do Hawaii

domingo, 23 de março de 2014

Melhor Mentira

Como é acabar?
Sair sem dar tchau
Andar sem olhar pra trás
Ficar calado

O que é silêncio?
Acolher
Acatar
Despedaçar aos poucos

O que é medo?
Esconder-se
Ser covarde
Omitir-se

O que é fingir?
Mentir papéis
Negar intenções
Negar interesses

Conheci a melhor mentira. Que me acaba com o silêncio e finge um medo que de tão bom é cruel. 



Trilha Sonora: "Quadro Somático" - Pedeginja 
Vídeo da Música

sábado, 8 de março de 2014

Dia 8 chuvoso

Cada uma delas tem dois corações. Carregam compaixão e vontade cuidar. Carregam raiva e vontade de destruir um espaço em 10s. Cada uma delas tem um grupo que é só delas. Clube da calcinha, que já foi queimada há muito tempo com o sutiã. Cada uma delas pode gerar outra vida, mas isso é questão de escolha, beleza? Podem amar e gerar pode amar e não gerar, elas podem tudo!

Luluzinhas, de salto, de rasteira ou pagus. Elas são encanto. Como diz o poeta: “quantos segredos traz o coração de uma mulher?”. Parafraseando ele mesmo: quem tem uma mulher na vida, tem sorte. Duronas ou sensíveis, amorosas ou desprendidas elas preenchem um espaço que não podia ser vazio. 

Ninguém sabe o querem de verdade, além do próprio coração. Consertam a vida de tantos, desconsertam a própria rotina. Mulher tem coragem pra tudo. Sabe ter o controle e não parecer autoritária sabe ser linda de blusinha básica e sandália baixa. Aceitem, não precisamos de salto pra tudo. 

Mulher que tem um dia e não façamos disso algo comercial. É um dia de direitos, de reflexão e ação. Nem feminismo, nem machismo, apenas humanidade. Não seja mais por ser mulher, nem tão pouco por ser homem. Sexismo nunca levou ninguém a nada, apenas distribui títulos aos babacas. 

Mulheres, mujeres, woman! Quão doce e amargo pode ser o sabor. A face maquiada ou tão limpa e inchada tem o mesmo despertar. Um corpo redondo ou de curvas bem definidas, mas que merecem a mesma admiração. Nesse dia 8 chuvoso, que toda falta de respeito, consciência e ignorância possam ser lavadas. E que as flores façam sentido e não morram daqui a três dias de sede. Vem, menina! Embriague-se de vontade e não cura a ressaca. Podemos tanto, que nem cabe nessa prosa.

Trilha Sonora: Pagu - Rita Lee
"Sou rainha do meu tanque, sou pagu indignada no palanque"

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Fazendo e desfazendo ideia da vida

Uma menina perdida vagava pela cidade. Já não sabia como andar, suas pernas apresentavam sinais de cansaço, o cérebro não obedecia mais. Lutava para não parar de pensar, pois era do clube que considerava o "não - pensar" uma espécie de morte. Os azulejos do banheiro ela sabia quantos eram. Já conhecia o rosto de um por um que voltava naquele horário, naquele ônibus, com aquela mesma fadiga. Faltava aulas por aventuras, por falta de entendimento e por boliche. Nunca fez um strike na vida, nem jogando aquela bola em manhãs solitárias.

Não conhecia a família. Por descuido, rotina ou comodidade. Sempre pensou que de alguma maneira, não precisamos regar e cultivar os laços de sangue. Estava enganada! Enganos eram sua especialidade. Enganada com o curso, enganando os pais e o namorado, se enganando. Por algum motivo, a música de Cazuza ecoava na sua cabeça: "A dor no fundo esconde uma pontinha de prazer". Era seu ringtone! 

Encontrou um par, mas não eram exatamente dois. Ele, uma espécie de terapeuta. Ela, uma doidinha inebriante. Deu pano pra manga. Conversas banais, empíricas, construções. O mundo parou no primeiro beijo. Pra ela, "pode ser" era sempre a melhor resposta. Não machucava, não frustrava. Mas sempre alimentava um ego, que nunca era o seu. Enfim, descobriu tesão em algo que fazia, não era boa o suficiente, mas patinar era um motivo pra sair da cama.

O amor talvez não fosse o patins, mas a descoberta de que é possível equilibrar-se sobre suas dúvidas e medos. Cair é inevitável, seja na rampa ou na pista do shopping. Patinou só, patinou junto. Junto com aquele par, que não é dois. Colocaram uma música, deram as mãos. Não pense que o final foi feliz ou que foi de novela. Não teve "eu te amo", mas foi um fim de prazer.

Prazer em vestir-se de turista para passear em lugar que já conhecemos. Despir os olhos viciados para enxergar algo tão óbvio que estava escondido. Prazer na dor, como diria Cazuza. Mas também, prazer em ser estrada pra quem está perdido e vê que isso não é submissão. 

É do ser humano o papel de perder-se, mas achar-se também é dele. Em mim, em ti. Juntos. Não façamos ideia do que estamos fazendo da vida. FAÇA VIDA, que se divide em duas sílabas. E por isso não pode ser só. 

Trilha sonora: Gente, assistam o filme da Clarice. 
"Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo da minha vida". [Trailer do Filme]
E apreciem a trilha indie linda do filme!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Bastar-se

Não ser bom o bastante. Parece um medo besta e secundarista, mas existe pra muita gente. Medo de falar muita bobagem, de não ter rosto harmonioso. Medo de não empolgar. Ser magoado pelos outros "é mole, é fácil, é lindo", mas quando quem ocupa o trono somos nós mesmos, a coisa fica mais séria. "Posso ser quem eu quiser", isso é fato. Mas também é angústia. 

Ser, não ser, pseudo ser. Coexistindo e digladiando dentro do mesmo coração. Desconfio que, quando não conseguimos ser dois, três ou quatro, é porque ainda não conseguimos ser um. Ser um inteiro, completo, que consegue sair sozinho sem mobilizar uma excursão. Ser um resolvido, que decide sair de trapos, sem medo de represálias e piadinhas que beliscam. Ser um. Um sorriso no espelho, que alegra a própria vida e passa longe do narcisismo. Mas que tem a cara do amor próprio. 

Quando descubro que sou bom o bastante pra mim, alguém sempre nota. Não por obrigação ou apelo, mas é que o autocontentamento exala, tipo cheiro de rosa. Perfume inebriante. Doce, sem tornar-se enjoativo. Bastar-se é como habitar em "As rosas não falam" de Cartola, roubando o perfume das rosas e espalhando-os por aí. Não é egoísmo, muito menos utopia, esse negócio de autoamor. Bobo é quem pensa que pode dividir o que não tem. 

Trilha sonora: "Contra o tempo" - Rita Ribeiro
"O que sou, onde vou, tudo em vão"

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O nunca e um monte de coisas



Nunca saberemos o que é pelo simples fato de nem ser.

Nunca poderemos julgar, pelo simples fato de não ter vivido.

Nunca poderemos prevê, pelo simples fato do impossível.

Nunca será todo, por se tratar de metades.

Nunca dirá toda a verdade, pelo mal me disse de toda a língua.

Nunca “eu”, pela existência de tantas.

Nunca inocente, pelos anos e ternura que se passaram.

Nunca, nunca, nunca (...) Terra habitada por ela e por outros.

Terra pouco fértil, apesar do nome.

Pouco arborizada, por falta de tempo.

Mais capim e menos frutos.

A grama é marcada, onde faz travesseiro.

Garrafas jogadas e copos sujos.

Terra do nunca. Nunca adentre.

Aqui é sufocante, mal me cabe.

Cuidado com a cabeça, esse é o esconderijo.

Perturbador, apertado e meu.

Nunca mostrei pra ninguém. Até descobri que ninguém também tem nome.

Nunca imaginei. Não deveria.


O ditado nunca erra. “Nunca diga nunca”.

Trilha sonora: "Que não deveria se chamar amor" - Moska
"Poderia se chamar labirinto, pois sinto que não conseguirei escapar"

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Coisa de quase segunda



Invenções humanas
Pequenos consolos
Risca o fósforo
Faz o fogo

Luz de velas
Desajeitada
Tantas lâmpadas
Não sou mais star

Tudo novo
Asfaltado
Nó na garganta
Fiquei sem ar

Meu futuro
Minha vida
Grupos?
De uma só pessoa

Passear no parque?
10 reais
Fui roubado
Voltei pra casa

Campainha
Guarita ou porta?
Entrei
Mais do mesmo.

Trilha sonora: "A Lista" - Oswaldo Montenegro

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Sal de saudade

Podia ser saudade, mas com "L". Trocadilho escroto, mas é verdade, tem gosto de sal. Ter esse gostinho aguça dúvidas. Salgado é meu paladar preferido, que me enche com o mesmo prazer dos que apostam em um bom doce para cura dos problemas. Saudaaaaade. Dessas que esticamos a palavra e o abraço. Dessas que reparam o que mudou no teu rosto, daquelas que choram na rodoviária. 

Saudade do que a gente era e mais saudade ainda do que a gente não foi. Essa coisa de coração apertado, uma coisa meio Paralamas: "olhos fechados, pra te encontrar." Saudade de coisa gostosa, de correr de calcinha, tomar vinagre escondida ou fazer bolinha de cream cracker na boca. Saudade é uma coisa particular. 

Saudar a infância já me parece clichê. Nem sei se fomos essas crianças fofas e felizes que dizemos. Talvez a felicidade tenha chegado com o poder de escolha, e isso não quer dizer que a infelicidade também não tenha se alojado. Saudade é uma espécie de suspensão. É um pairar no ar com memórias e sensações. Saudade que se materializa em sorriso ou choro, num comprido e delicioso suspirar. 

Falar de saudade é repetir saudade várias vezes, porque nada consegue explicar. Saudade não tem tradução, talvez seja o que exista de mais subjetivo e ímpar. Imagina uma prova com a seguinte questão: desenhe a saudade. Seriam bolas, corações, bicicletas e cores. Ou penumbras, chuvas e bonecos sem expressão. Saudade de tu, saudade ela. Conjuga essa praga na pessoa que quiseres.

Mas te desejo saudades eternas, dessas de músicas indies ou de bregas rasgados, que movem o mundo e pequenos corações. "Hoje eu acordei me veio a falta de você, meu bem, saudade é pra quem tem". 


Trilha sonora: "Meu amor é teu" - Marcelo Camelo 
"Ainda gosto de você" - Sorriso Maroto
"Fui fiel" - Pablo do Arrocha

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Faça, meu caro

Parece clichê, e é. Aquilo que fazemos sempre será mais importante do que aquilo que aprendemos, somos e temos. Ser, não basta, não é verossímil. Ser, quem sabe? Você sabe? Por mais que todo mundo te diga quem você é, os anjos declamem, os ventos urrem, que as águas bramem [...] eles te convencerão da verdade? Por isso meu caro, faça. Nada pode refutar o que fazemos. Está feito. Faça-o bem - por você e pelos outros; o último é mais importante que o primeiro. 

Filipe Castelo para o Versus.


Resposta pro Fi

Fiz até quando já não queria
Tentei até a última força
O bem dos outros, já não era o meu
Caos
Angústia
Sou. Hoje mais serena
Já não quero agradar
Anjos, ventos e águas não me abateram
Eles nunca vão saber
O que nem eu sei. 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Ciclos, medos e palpitações

Achar
Inerente à busca
Achado
Presente depois da busca

Palpitar
O que faz o coração
Palpitando
É o que faz esse órgão agora

Medo
Me perpassa por vezes
Medrosa
Pode me definir por hoje

Ciclos
São necessários
Cíclica 
Pode ser a vida

O medo de achar que um novo ciclo começou faz meu coração palpitar.

Trilha sonora: "Conforme prometi no réveillon" - Djalma Lúcio