segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Recebi um nudes textão


Eu tenho evitado conclusões com o passar dos anos. A decisão é tão drástica que tenho levado isso até mesmo para ciência. Já são uns dois anos colocando “ensaiando conclusões” nos finais de artigo. Sei que isso é pouco, mas é o que o sistema ainda me permite fazer. Quem escreve, mesmo brincando, fica meio louco. Anda sempre com caneta e papel e acaba prevendo problematizações que ninguém, nem mesmo o fiscal de facebook, iria prever. 

Esse negócio de previsão é uma coisa complicada. Tudo parece muito previsível nos tempos de cólera. Certamente você já ouviu “eu sabia que isso ia acontecer”, ou melhor, “eu sabia que isso ia acontecer contigo”. É uma previsão carregada de egoísmo e que desperta várias curiosidades. Que tipo de gente caminha comigo? Que amizade é essa que me espera quebrar a cara e ainda pisa nos cacos? Ou talvez você seja o dono da bola de cristal, aquele que tem lição moralista disfarçada de conselho e ombro amigo mais caro que shopping de zona sul. 



Eu gostava de quando não escrevia. Daquele tempo em que eu não era refém do texto pra nada. Hoje ele dorme comigo, paga minhas contas e fala por mim. Certamente quando for pedir alguém em casamento mandarei uma carta. E vou torcer pra que ninguém chegue antes de mim com um carro de som e uma aliança. As pessoas não entendem quem do texto é escravo. Não é o meu tempo, é o tempo da palavra. E essa, meu caro, só vem quando quer (e quase sempre quando não foi convidada).

Infelizmente vou ter que mentir. Confessarei que tenho uma conclusão que superou o ensaio: irei continuar escrava do texto. Não existe áudio ou nudes que posso bater a delícia das palavras entrelaçadas. Um texto é a melhor previsão. Mesmo em tempo nublado, um texto é capaz de ser sol na vida de quem o recebe. Em tempos em que “textões” são rejeitados e descartáveis as previsões podem não ser das melhores, mas ainda há luz.


Que não nos faltem textos. Sejam eles travestidos de músicas, peças, diálogos, monólogos ou sorrisos. Que a magia da linguagem seja (re) conhecida mesmo em tempos de memórias cheias de aplicativos. A previsão do tempo é de liquidez, mas não de desmanche. Valorize quem tecla horas por você e com você. Valorize quem vai além do emoji. E valorize mais ainda quem tem paciência e coração para lhe mandar um texto. Porque quem escreve tira a roupa e esse sempre será o melhor dos nudes.


Trilha Sonora: "Tanto pudor...não vejo graça. Pra mim esse carinho não convém".
(Bruta como Antigamente - Validuaté