segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Quando a vida se torna um programa de TV no sábado

As coisas andam tomando um rumo engraçado. Pareço eternamente viver sob pressão. Um sentimento estranho de quem vai ao programa do Luciano Huck e vende a alma para ganhar o prêmio. Pela manhã estou no "Soletrando", soletro b- o- m- d- i- a quase que inultilmente. Ninguém responde, ninguém escuta. É como se o aúdio da minha cabine estivesse falhando. 

Mais tarde é a vez do "Agora ou Nunca". Nesse quadro vivo em um eterno ensaio. Algumas coisas estão mais pro nunca, apesar de sempre preferir o agora. Loucura, loucura! A cada passo me vejo distante dos 10 mil reais. A minha vida parece estar no auditório, com cara de decepção e resmungando: olha o que essa louca faz comigo!

Aí vem o carnaval. Vejo ao longe uma oportunidade de ser musa do meu próprio bloco. Não me encaixo bem nos requisitos. Tenho um forte carisma, porém sou pouco equilibrada para os saltos. É, o equilíbrio não é muito o meu forte. 

Por fim, participo do "Lata Velha". Tento com afinco uma recauchutada. Preciso alinhar algumas coisas, fortalecer a luz do farol, comprar um  step. Vejo que também é hora de melhorar os freios. Com tanta coisa pra arrumar, me pergunto se esse carro tem jeito. 

Olha só, que fase! Tão jovem e já entregue aos programas de sábado na TV. Dividir a vida em quadros é uma ótima estratégia. Nos dá a sensação de que tudo se consegue com muito esforço. Es- for- ço. Eu sempre detestei essa palavra. Passa longe de elogio e esconde certa incompetência. Não se esforce. Isso quase sempre nos leva a afogar sonhos.

A vida está passando e não está dividida em quadros. Não quero me esforçar para pensar no que poderia ter sido. Por isso meu próximo passo será mandar uma carta para o seu programa. Como começarei a carta? Ainda não sei. Mas pode ser algo do tipo: "Você perdeu 10 mil momentos incríveis por estar apenas se esforçando". Eu tenho um convite "Chorão": vamos viver e vadiar? O que importa é o sorriso. Como diria o Fred: um sorriso ou dois :))

Trilha sonora: "Como é que eu troco de canal" - Vida Real (Engenheiros do Hawaii)

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Me apaixonei pela sua banda

Spoiler: essa história poderia ter tido um final feliz. 

Eu era uma fã como todas as fãs. Apaixonada, meio cega e defensora de incapaz. Esse último é algo engraçado e curioso. Sempre achamos que nossos ídolos são incapazes de se defender e eu achava isso da sua banda. Achava que mesmo sendo uma desconhecida, eu era a fã que você precisava. Eu elogiava as suas roupas, por mais estranhas que elas fossem. Assistia prontamente as suas sugestões de filmes, ouvia a sua playlist no spotify, retuitava absolutamente tudo e de uma maneira meio louca minha timeline se confundia com a sua. Eu e a tua banda, nosso mimetismo. 

Eu sempre fui de observar. E isso me fez ser uma fã diferenciada. Eu olhava além dos outros, eu exaltava tua personalidade com referências científicas. Tudo que eu falei de você tem base em livros, jornais e enciclopédias. Quando produzirem uma biografia da tua banda, me chama. Eu quero fazer essa última coisa por você. Esse é meu último pedido para algo que envolva nós dois. 

Eu observava. E foi assim que aos poucos pude ver a minha banda caindo nas paradas de sucesso. A sua não, só crescia. Novos fãs, turnês, autógrafos. Eu ali no camarim, tímida. Tão necessária quanto 10 toalhas brancas e bem dobradas. Você me usava e jogava pra galera, dizia que era importante dar além de um bom show para quem tanto esperava pra te encontrar. Foi sendo assim, até que...

Eu pirei. Na maionese, na batatinha, no nugget. Eu pirei total! Coisa de colocar câmera escondida, microfone na caneta e cheirar gola de camisa. No fundo a gente sempre sabe quando vai encontrar algo que não quer saber. É assim em toda banda, quem sonha com carreira solo fica naquele marasmo. Nega para imprensa e pra si mesmo, mas nunca engana um verdadeiro fã. 

Eu sabia. Eu sabia das tuas pretensões. Lembro do primeiro chopp pós-show, naquele barzinho da praia. O sol já estava despontando e você confessou que não nasceu pra ter banda. Achava muito chato ter a imagem ligada à um monte de gente. Ter que depender de arranjos alheios e ter que apresentar todo mundo no fim do show. Fiquei meio frustrada, mas preferi esquecer. Aquela coisa de fã...

Daí pra frente veio a nossa derrocada. Na verdade, foi a minha mesmo. Eu não aceitava minha banda se desfazendo. Quando te olhei no Faustão com aquela nova formação, meu coração ficou em pedaços. Foi a maior videocassetada da minha vida. Aquele soco me fez chorar diante da minha 32 polegadas. Era o fim de um ciclo. Um fim que eu não escolhi. Nunca vou me perdoar por não ter conseguido fazer você esticar o contrato. Mas agora eu ando por aí dando conselhos. É o que eu digo: nunca faça de uma banda a sua vida! 

Trilha sonora: "Foi-se o tempo em que nós dois..." - A Estrada - Phill Veras.