domingo, 4 de dezembro de 2016

Há dias



Parece que é isso mesmo. É assim que eu gosto das coisas. Ou é assim que elas me levam à gostar. Nunca sei direito o que me desperta, ainda não sei de onde vem a faísca da paixão. Eu suspeito. Suspeito que seja um riso travado que me desperte, a mania de não concluir frases, a repetição do mesmo vocativo, a maneira engraçada de negar mais um copo ou jeito de errar as piadas.



Sou excesso. De vontade, voz alta e fome. Não sei gostar só um pouquinho, pela metade ou com muitas cláusulas de contrato. Há dias que eu apenas desperto. Com um nome que transborda o travesseiro, pega um pedaço na cama e toma as vezes do despertador. Há dias que eu acordo gostando. Gostando e não é pouco.

Há dias que eu saboto. Coloco barreiras, roteirizo histórias que não vão acontecer. Eu misturo ofício, paixão e tédio. Não há um lugar em que eu não seja os três. Repito o excesso (de pensamentos). Há quem exalte o pensar. Eu pondero. O pensar age pouco, mas sabota como ninguém. Há quem balance coração e razão, me falta a balança e a vontade.

Parece que é isso mesmo. Eu, meus excessos, roteiros e faíscas. Vou sempre no difícil para que a conquista ou a decepção tenham um toque épico. Há histórias. Ah, histórias...Os que se apaixonam por elas, nunca se contentam com tão pouco. Sigo os dias apoiando-me no que me desperta, no que me sacode alma e coração. Há dias em que fixo os pensamentos, em um olhar que me traz força motriz. Há dias que penso e esses são longos.


Trilha sonora: "As paixões, meu amor, são tontas, são tantas" (...)
A Banda Mais Bonita da Cidade


quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Aquela janela não é só janela


Tenho observado o prédio ao lado do meu. O acender e desligar das luzes. Parece que de alguma forma eu conheço aquelas pessoas. As que desligam tudo depois da novela, as que acordam às 5 e fazem muito barulho. Gente que ainda usa lâmpada amarela e tá pouco se lixando pra conta de energia.

Em qualquer lugar que estamos procuramos uma rotina. O que seria do ser humano se lhe fosse tirada a capacidade de repetir coisas? Eu assisto tudo se repetir. E nesse momento repito o olhar para a mesma janela que se encaixa perfeitamente ao meu ângulo de humana de bruços, olhando o horizonte à procura de sentido.

Aquela janela me lembra eu mesma. Me lembra vida longe e perto de mim. Me lembra que a luz é um dos nossos primeiros condicionamentos. Me lembra que alguma hora é preciso dormir. No outro eu me vejo. Apesar de deslocada e sem muito tesão. Em cada janelinha enquadrada, vejo que sobreviver é enfeitar prisões.

Quando falo da minha janela, vejo olhos brilhantes de alegria. "Nossa, olha a janela estranha. Ela não tem hora para desligar". A existência também é um parâmetro. Uma janela só é diferente, se todas as outras forem iguais. Há beleza nisso. Há angústia também.

Trilha sonora: "eu não gosto do bom gosto, eu não gosto do bom senso...não gosto".
Senhas - Adriana Calcanhotto.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Achei o sorvete para o meu frio na barriga


Tocou a nossa música. Que ainda não é nossa porque você não sabe da gente. A letra é linda e a melodia encaixa como um abraço. Tem versão acústica, rock pauleira, seresta e bregão, depende de como o nosso amor acordar a cada dia. Tocou a nossa a música e eu fui lá na frente. Mão no peito e copo erguido, é um tipo de ritual moderno para mostrar que você se emociona com uma música. Ou melhor, que a música te lembra alguém que te faz emocionar.

Passou o nosso filme. Sim, passou. É uma mistura de sessão da tarde com cinema de guerrilha. Filme de pouco orçamento, viu. A gente vai ter que segurar as câmeras e o rebatedor. Mas no fim vai valer a pena. A gente viaja para uma mostras independentes, aproveita e diz que é lua de mel. Não teve lei de incentivo. Ou melhor, teve. O incentivo foram os beijinhos regados de pôr-do-sol que a gente viveu.

Postaram a nossa foto. Que droga, viu! A gente não pode descansar um minuto que esses "paparazzis" ficam de butuca. Só podia ser aquele seu amigo! Mas eu vou perdoar, ficou tão bonitinha. Lembra o quanto a gente é desprevenido e pouco fotogênico. Aproveita e atualiza esse Instagram, entra na onda do "se postou foto é porque tá amando".

Nada faz muito sentido desde o começo, a gente só tem unido as coisas para ser feliz. Uma hora combinamos em tudo, em outras somos dois estranhos tentando se bicar. Eu não sei de muita coisa, só sei que desde cedo entro nas aventuras para me desafiar. De plano de fundo, temos a arte que une vidas como ninguém. Se vamos pintar, desenhar, dançar, escrever ou cantar, eu não sei...Pode ser tudo, pode ser nada. Mas até agora, se arriscar tem sido bom. Faz tempo que eu troquei o conforto pelo frio na barriga. E você, ah, você...é um sorvete delicioso.


Trilha sonora: "Estranho jeito de amar" - Sandy e Junior

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Eu não sei brincar, rapaz


Essa busca por se descobrir tem lá seus sustos. A cada dia aumentam as neuras, algumas obsessões e a certeza daquilo que não quero ser, mas sem saber de fato o que seremos. Me assusto comigo porque não entendo certos passeios do meu "eu". É como se nunca preenchesse as fichas. É mudar de e-mail sem aviso prévio. É a turbulência de desinstalar o whatsapp e precisar prestar contas.

Eu quero e não quero. Eu brinco disso. Mas é brincadeira séria, valendo medalha. Quanto mais embaçado o futuro, maior o meu foco. É como eu sempre ouvi desde criança: "tu não sabe brincar". Talvez eu não saiba mesmo. Talvez eu não queira mais brincar. Não posso tentar fugir do que me deixa insone. Se a gente nega de dia, o travesseiro cobra de noite. 

Eu não sei brincar, rapaz. Eu sou daquele tipo que destrói a casinha, que rouba a bandeira e que dá carona na bicicleta. Mas olha, você tem que soltar as mãos! Eu só acredito em gente louca. 

Trilha sonora: "Vem comigo, no caminho eu explico".
Vem Comigo - Cazuza.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Para aquilo que não foi


Talvez o erro seja ser tão autobiográfico. Tão direto nos detalhes. Talvez o erro seja o excesso de criatividade. Ou talvez, não exista erro.

Talvez o equívoco seja ser tão eu. Sem nenhuma saída para não ser tão assim. Talvez olhar como sou não indique um futuro. Eu sou agora da cabeça aos pés. Camisa 10 do momento. Cristã do futuro que a Deus pertence.

Talvez seja o incômodo. Não sou da tribo, sou dos índios. Não sei me encaixar. Sou dessas pessoas difíceis, que as pessoas mentem para não machucar. Ou talvez seja o medo do desastre, eu sou um mar atordoado em plena ressaca. 

Talvez as coisas aconteçam para me ajudar a escrever. Talvez eu seja o ladrão da minha própria história. Vai que é um karma ser lego e a necessidade de "remonte" seja vital. Vivo! Vivo nessas e outras, as vezes pecando por observar demais. Aquilo que não foi, eu escrevo. Outro dia eu leio de novo e lembro daquilo que fui.

Remonta, rapaz. Agradece a história e os diálogos, mas vai em busca de novos finais.


Trilha sonora: 
"remonta o amor, remonta, remonta, remonta"
Remonta - Liniker.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Atraso


Atraso em tudo
Nas chegadas e nas idas
Em festas e despedidas
Atraso por não saber contar

O relógio não é amigo
Vivo em eternos 10 minutinhos
Atraso nas declarações
Digo eu te amo quando já passou

Atraso nos abraços
Porque demoro com os braços
Apresso com olhos
Não cruzo o olhar

Atraso no afago
Apresso na petulância
Estrago o clima
Não sei ir devagar

Atraso na rima
Por vezes desisto
A poesia não exige pressa
É por isso que nela habito

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Tenho notado você

Menino, não seja assim tão disfarçado. Não me faça voltar dez casas em cada passo. Não seja tão difícil para alguém que é míope. Gosto do teu jeito de alguém que eu nunca seria, gosto de perceber teus tiques e esperar pelo que não vai acontecer. Gosto de me surpreender com aquilo que eu não gosto. Eu não gostava de você.

Tenho notado que é possível aparar arestas, talvez porque já estou na metade da juventude. Hoje já me cansam os embates. Eu troquei a birra pela empatia. A gente vem aqui para aprender, né? Tenho notado que talvez poderia ser, mas não agora. Os espaços não rodeiam a favor. Pode ser que seja, né. E, olha: eu não gostava de você.

Vamos escutar umas músicas juntos. Talvez comer um pouco, eu bem mais que você. Vamos discutir qual área do conhecimento é mais importante, eu sempre defendo o meu diploma, viu? A gente que é de humanas, sabe né? Tem orgulho de rejeitar os cálculos. A gente pode fazer uns trabalhos juntos. Trabalhos felizes, sem estresse. Se isso acontecer, mesmo assim eu vou dizer: eu não gostava de você. 

Tenho notado o quanto mudei. Não que você tenha me mudado, mas talvez você seja a primeira pessoa que eu encontrei depois da mudança. Casa desarrumada, caixas pela sala e telefone fora do gancho. A gente se ajeitou assim mesmo, fez daquele lugar o melhor, ajeitou um encontro sem ter ao menos marcado. Eu não gostava de você. Lá atrás, lá antes daquele dia, lá onde eu nem lembro. E agora que eu notei você. Será que é de você que eu gosto? 

"ei, seu tiver coragem de dizer que eu meio gosto de você, você vai fugir a pé?"
Macaé - Clarice Falcão 

terça-feira, 2 de agosto de 2016

O que eu aprendi com Lovesick



Já falei outras vezes que tenho pavor de coisas que são a “minha cara”. Em alguma cadeira de psicologia lembro-me de aprender que nosso subconsciente rejeita como forma de defesa as coisas que dizem muito sobre nós. Por isso, sempre vamos “tretar” com aquele amigo que se parece muito conosco, teremos mais antipatia com nosso pai ou com nossa mãe, dependo de quem lançou mais codificações genéticas (haha, nem sei se isso é possível), aquela tia que provavelmente seremos nós no futuro, sempre é a mais odiada (coitada!). Mas ser humano é isso. É quase sempre não se responsabilizar pelas próprias sujeiras.

Toda essa volta na psicologia que parou no segundo período é para falar de uma série deliciosa que está na Netflix – LoveSick. Em uma sinopse rápida (sei que fui redundante), a série conta a história de três amigos: Evie, Luke e Dylan. Eles moram juntos em um apê com três quartos e com certa privacidade em suas vidas. A questão é que amizade é envolvimento, e muitas vezes não sabemos onde essa “envoltura” vai chegar. O que mais me encantou na história? Os diálogos. Tudo lindamente pensado para combinar com uma cenografia leve e com ares de juventude. Ah, a juventude. Confusa, estranha e mais confusa. “Você sempre gosta da pessoa errada e atrapalha todo o resto”. Essa frase você vai ouvir se assistir essa delicinha. E ela faz sentido, né? O problema não é uma paixão errada, a questão é atrapalhar todo o fluxo.

Esqueci uma coisa importante: o “sick”. Mas simplificando, mais uma vez, o “sick” existe porque o Dylan descobre que tem clamídia e resolve avisar todas as parceiras da sua vida para que elas possam se prevenir ou tratar o problema. Agora vem a parte mais importante: o que aprender com esse trio? Quantas vezes somos Evie na vida... Abrindo mão de sonhos e desejos para ser legal, compreensiva e amiga de todos. É meio triste ser uma pessoa que nunca se indispõe. Não que você vá sair por aí destratando as pessoas com palavras que machucam, mas é necessário SER. Ser alguém que não apenas figura, mas que é personagem principal da sua vida.

Luke é o cara que 80% da população “ficaria” na balada. Tão lindo que tem pavor de conversar. Como ele mesmo diz “se eu conversar, ela vai me conhecer”. Que triste ser alguém que evita conversas, que nunca quer ser a pessoa sentada no divã. A gente se esconde com medo de um passado, de uma foto ou de apostas que nem mesmo nós sabemos porque prometemos. Luke pode nos ensinar que o passado deve ser resolvido, ou então será uma alma penada que desfigura nosso presente e o tão esperado futuro. Por fim temos Dylan. Ah, o Dylan. Erra simplesmente porque ama demais... Ama demais os outros e é aí que mora o perigo. Baseia sua existência em existir na vida de alguém. É preciso entender nossa existência na solidão para poder ser feliz junto. A solidão também é um par necessário.

Lovesick veio em uma ótima hora na minha vidinha. Mais uma vez eu me perguntei “o que fica quando tudo passa?”. Talvez a resposta seja: o que fica é um sofá e uma vodca na casa de quem nos ama de verdade. Às vezes a gente precisa da ficção para acreditar na sabedoria popular. E Lovesick reafirma o banal mais real: na dúvida, fale, ninguém sabe o que calado quer! 

Trilha sonora: "Se sim disser, se a mim quiser
Já viu, já é, já deu
E eu vou torcer pra ser você e eu"

Casa Pronta - Mallu Magalhães


quarta-feira, 6 de julho de 2016

Beijo baby




Teus lábios
.
.
.

Boca
Começo de digestão
De longe excita
Quem brinca de desprevenido

Teus lábios
Enigma
Longe do decifrar
Não sei se prefiro os olhos

Um dia?
Pouco
Nem de longe contempla
A grandeza do unir de bocas

Não são só bocas
São coisas amontoadas
É uma fricção de dois
Ondas rachadas sem o mesmo tamanho

Ensaio os versos de novo
Logo no dia que não celebramos
Tua boca vive longe
Mas no pensamento ofega

"tua carne pra mim paraíso"
Como Qualquer Chiclete - Nathália Ferro

domingo, 26 de junho de 2016

Meu querido estranho


Os sentimentos adoram fazer surpresa. Chegam em carros de som com mensagem ao vivo e foguete. Sempre vão existir situações que vão te fazer sorrir de canto de boca e suspirar "nunca pensou que isso ia rolar, né". O próprio coração acusa. Afinal passamos boa parte da vida construindo muros de blindagem sentimental. A distância faz a gente valorizar. E mais que isso, faz a gente perceber que tudo que a gente precisa talvez sempre esteve tão perto.

O coração engana mas também dá pistas. Elas são sutis e sorrateiras e a velocidade dos cliques, likes e filtros talvez nos confundam um pouco. Nada é por acaso. Não é possível que as pessoas ainda insistam em usar a coincidência. Basta um minuto de reflexão e você já consegue traçar vários links que mostram que suas relações passam longe de ser apenas coincidência. É engraçado ver como sentimentos se renovam ao longo dos nossos passos. "Roda moinho, roda gigante". Gostei, passou, gostei de novo, beijo, declaração, desgosto. Gostei de viver tudo isso. 

O sentimento chega no seu ouvido e diz pausadamente: vou/te/pregar/peças. Você, fadigado do dia-a-dia, não liga muito pra isso e prefere deixar que isso passe batido. Aí de repente o destino bate na porta ou "moderninho" que só ele, manda um "olá" despretensioso é um desses milhões de aplicativos que são confundidos com insônia todo dia. O sentimento é implacável. Ele não tem pressa, pois já sabe até quantas noites ficaremos em claro por causa dele. Quem sabe a importância do tempo, sempre será rei.

Pois é, a gente subestima mesmo o que pode sentir. Não acredita que tudo pode mudar. Prefere se apegar às antipatias. E olha, isso é um forte sinal. Gosto muito dessa frase clássica de tumblr: "se faz sentir, faz sentido". Já não se preocupe tanto com as coerências, com os encaixes perfeitos ou com as inúmeras coisas que vocês podem ter "a ver". O estranho, o bizarro, o sem noção pode preparar deliciosas surpresas. 

O estranho nos desperta. Nos convida ao mergulho naquilo que no fundo é extraordinário. Olhares são estranhos, pois nunca dizem tudo o que querem dizer. Não permita que os estranhos passem por você sem deixar marcas de aprendizado e descoberta. "Estranho seria se eu não me apaixonasse..." se eu não brigasse, se eu não desafiasse, se eu não perdesse o eixo, se eu não pirasse por esse estranho. Muitos, muitos, muitos "s"...para mostrar que quase tudo só faz sentido no plural. Nós? Quem sabe, né. Meu querido estranho. 

"Deixo no ar, eu sigo apenas..."
Como dois e dois - Roberto Carlos 

domingo, 5 de junho de 2016

Eu quero ser trouxa sempre


Perdi as contas de quantas vezes fiquei nua. Minha especialidade é me despir diante do improvável. Ainda afetada pela poesia do Moska, vejo que esse conselho serve para mim “você se afunda tão raso, não dá nem pra tentar te salvar”. Talvez “cabeça dura” vale para esse tipo de aventura: a de bater em cheio na armadura dos joguinhos sentimentais das pessoas. Eu amo a Internet e vou defendê-la sempre, mas as vezes me pergunto onde foi que viajamos para achar que acompanhar a vida de alguém em todas as redes sociais digitais é melhor do segurar sua mão e desbravar o mundo. Hoje em dia nossa maior aventura é curtir uma foto antiga. 

Não é fácil ter atitude, sobretudo quando se é mulher. “Não seja oferecida, se ele te achar fácil, o encanto acaba” – disse o amiguinho babaca tradicional. Engraçado que na escola, quando a prova era fácil, todo mundo saía com um sorrisão de orelha a orelha. Nossas contradições me assustam um pouco. Ter atitude não é ser fácil. É apenas entender que a felicidade não precisa ser um teorema de joguinhos sentimentais, onde a sua coragem de expor seus sentimentos é inversamente proporcional a chance do nosso beijo. Não sei nem definir o quanto isso é chato!

Diante de todo esse teatro de péssimo gosto, eu me deito feliz e completa no fim do dia. Viver é esgotar todas as possibilidades. É combinar todas as roupas possíveis e “descombináveis”. É ocupar pistas de mão dupla sem a certeza de qualquer caminho. Viver é seguir. Em frente e formando memórias com gosto de quero mais. Apesar do “não” ou dos dois tracinhos azuis naquele “app verde” eu te chamo para o cinema sim, eu mando a música que lembra a gente (pelo menos para mim), eu faço planos de sorvete e netflix, eu desenho nossa próxima conversa. A gente brinca, tira onda, faz chacota, mas a verdade é a seguinte: quem é trouxa é que é feliz. Deus nos ajude a não engasgar com nossas limitações de simplesmente dizer que é amor.


"O teu desejo é meu melhor prazer"

Bem que se quis - Marisa Monte 

terça-feira, 24 de maio de 2016

Crescer ou não crescer?


É muito pesado dizer "eu cresci". Sempre desconfiei que nós nunca crescemos de fato, ou melhor, paramos de crescer aos 19 anos e depois desses anos completos temos que atuar por aí fingindo ser adultos. É claro que nunca crescemos. Nunca deixamos de gritar quando falta luz, não sabemos lidar com piscina de bolinha e futebol de sabão e sempre será relaxante tirar umas boas melecas do nariz.

Aí alguém pode perguntar... E as contas? As provas? As decepções amorosas? Isso não é coisa de gente grande? Meu amigo, isso tudo não é coisa de gente. Sobretudo quando colocamos tudo isso em primeiro lugar em nossa vida. Vivemos uma moda muito estranha de nos encher daquilo que em breve vai nos deixar cheios e não completos. Cheios mesmo - de saco cheio! 

A cada dia somos mais matemáticos, temos mais certezas e somos mais absolutos. Mas aí Caetano Veloso chega no pé do ouvido e canta: meu amor, tudo certo como dois e dois são cinco. Pronto! Nosso castelo de certezas desmorona e nossa única certeza é que a certeza não é um bom caminho. A vida fica chata quando deixamos de fazer perguntas. Ou pior, quando achamos que a resposta pra tudo é: eu cresci. 

Por isso eu admiro o tiozinho do rock, casais com diferença considerável de idade, gente que vai pra festa na véspera da prova, quem chama Deus de papai do céu mesmo tendo mais de 30 anos. O mundo pode ser chato mas você não é obrigado a pegar essa onda. "Nossa, como você é infantil". Ouço isso como um certo elogio, afinal morro de vontade de pensar um pouquinho como as crianças que convivo. 

Se crescer se resumir a fazer joguinhos amorosos, a não ter mais tempo pra nada, a ter que negar que eu tenho medo de escuro, a ter que ver meus amigos como adversários em concursos, a ter que gostar de pessoas por conveniência...eu me recuso a crescer. O triste não é crescer em tamanho ou idade, mas é simplesmente não evoluir. Tenho pavor de almas adultas e burocráticas. Quem racionaliza muito a vida, perde a delícia de se lambuzar com ela. Adulto se limpa, criança se lambuza. Eis aí a chave da felicidade. 

Trilha sonora: Como dois e dois - Caetano Veloso & Gal Costa
"Tudo mudou, não me iludo"

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O amor precisa reconhecer

"E quando eu te encontrar, meu grande amor, me reconheça". 
Angela Ro Ro não poderia ser mais sincera. Que medo da gente ter se esbarrado e eu ter te chamado de amigo. Que medo de ter te julgado fraco, quando na verdade era só medo. Que medo de você estar ao meu lado mas não ser meu grande amor.

A gente nunca sabe onde as coisas vão chegar. Não existe senhor do tempo ou grande dama do amor. Só nos resta sair da frente ou tentar se esquivar um pouco desse trem sem trilhos e sem freios que são as coisas do coração. Não existe maquinista que comande um desembestado coração.

Quanto tempo passamos em busca de normalidade e calmaria. "Eu só quero paz". Uma paz improdutível e sem grandes proporções de criatividade. Ninguém dá um passo sem paixão. E é por isso que é tão bom se entregar sem medo do que pode acontecer. Eu estava em paz e agora estou "apazixonada". Encontrei a tranquilidade que é perder a paz em outro sorriso. 

A paixão também exige equilíbrio. O equilíbrio de não se perder por outra alma. Não entregue seus espíritos e seus sonhos. Menina, você precisa estar inteira e sã para qualquer paixão. Se não for com esse par de calças, será com um par de bermudas que você irá se encontrar. Ou quem sabe em um homem de saias? Não padronize o amor, apenas viva. 

Desligue o celular, tome uns porres. Ou recorra ao sorvete e uns bons filmes baseados em amores irreais. O amor não termina em qualquer paixão. E não é qualquer paixão que vira amor. Quebre a cara, monte esse quebra-cabeça. Seja sua senhora. Não dê prazer, compartilhe. Reconheça seu grande amor no suor da camisa, no "boa noite" inesperado, na música de vocês. Mas não se prenda a um suor, a uma só voz ou a uma só nota. Grandes amores recomeçam a cada dia. Assim como nossas almas ambulantes e apaixonadas.