terça-feira, 24 de maio de 2016

Crescer ou não crescer?


É muito pesado dizer "eu cresci". Sempre desconfiei que nós nunca crescemos de fato, ou melhor, paramos de crescer aos 19 anos e depois desses anos completos temos que atuar por aí fingindo ser adultos. É claro que nunca crescemos. Nunca deixamos de gritar quando falta luz, não sabemos lidar com piscina de bolinha e futebol de sabão e sempre será relaxante tirar umas boas melecas do nariz.

Aí alguém pode perguntar... E as contas? As provas? As decepções amorosas? Isso não é coisa de gente grande? Meu amigo, isso tudo não é coisa de gente. Sobretudo quando colocamos tudo isso em primeiro lugar em nossa vida. Vivemos uma moda muito estranha de nos encher daquilo que em breve vai nos deixar cheios e não completos. Cheios mesmo - de saco cheio! 

A cada dia somos mais matemáticos, temos mais certezas e somos mais absolutos. Mas aí Caetano Veloso chega no pé do ouvido e canta: meu amor, tudo certo como dois e dois são cinco. Pronto! Nosso castelo de certezas desmorona e nossa única certeza é que a certeza não é um bom caminho. A vida fica chata quando deixamos de fazer perguntas. Ou pior, quando achamos que a resposta pra tudo é: eu cresci. 

Por isso eu admiro o tiozinho do rock, casais com diferença considerável de idade, gente que vai pra festa na véspera da prova, quem chama Deus de papai do céu mesmo tendo mais de 30 anos. O mundo pode ser chato mas você não é obrigado a pegar essa onda. "Nossa, como você é infantil". Ouço isso como um certo elogio, afinal morro de vontade de pensar um pouquinho como as crianças que convivo. 

Se crescer se resumir a fazer joguinhos amorosos, a não ter mais tempo pra nada, a ter que negar que eu tenho medo de escuro, a ter que ver meus amigos como adversários em concursos, a ter que gostar de pessoas por conveniência...eu me recuso a crescer. O triste não é crescer em tamanho ou idade, mas é simplesmente não evoluir. Tenho pavor de almas adultas e burocráticas. Quem racionaliza muito a vida, perde a delícia de se lambuzar com ela. Adulto se limpa, criança se lambuza. Eis aí a chave da felicidade. 

Trilha sonora: Como dois e dois - Caetano Veloso & Gal Costa
"Tudo mudou, não me iludo"