domingo, 13 de dezembro de 2015

Colo inquieto


Essa noite eu resolvi fazer as pazes contigo. No fundo você sabe que eu estou fugindo de ser feliz. Não sei lidar com nossos encontros, onde olhar pra ti é olhar pra mim por tabela. Estou negando talvez o único lugar onde eu seja feliz de verdade. E esse lugar é no teu colo inquieto. 

Eu quis muito ser mulher. Hoje recolho minhas lembranças de menina na tentativa frustrada de não crescer. Você me ama menina ou mulher? Responde para que eu seja sempre o contrário do que te faz feliz. A gente sempre briga por causa dessa petulância. Que não é só minha, vale lembrar. Você tem lá suas birras. Isso me deixa excitada. 

Seja lá como for, você será sempre o meu desejo de bis. "Bis" que eu não sei dividir, que eu quero a caixa toda, que eu tenho todo carinho em tirar a embalagem. Eu não quero fazer as pazes! Afinal, nós produzimos bem melhor quando estamos com ódio. Eu sei que um dia, no fim do dia, é teu colo inquieto que eu vou encontrar. Mas deixa a gente errar um pouco mais o caminho, eu quero mais histórias tatuadas na alma.

Pra ser amor, um dia tem que ser desencontro. O 12 não é o meu andar. Desculpa ter dito o número errado. Um dia você vai entender. Eu só vou querer ser mulher quando o homem for você. Um menino crescido, cheio de luz. Se for o teu colo inquieto o destino, um dia tudo isso vai ser inevitável. Estou no aguardo.

Trilha Sonora: "É você que tem" - Mallu. 

terça-feira, 13 de outubro de 2015

A fé que me faz


Desde que nasci não acredito em coincidências. O homem é tão egoísta que se acha o topo da cadeia alimentar, mas não vê a sua fragilidade diante de tudo o que cerca. Para mim sempre foi claro: existe um Maestro que nos rege, uma força maior que tudo isso. Com anos convivendo e me decepcionando com as pessoas e vice-versa, sei que muitos irão considerar isso uma fragilidade ou tomarão como piada. Mas como vou me desdobrando ao longo da minha existência: eu não ligo!

Esse não ligar não é desprezo, antes que me acusem de ser uma falsa "cristã". Eu simplesmente internalizei e isso é claro aos meus sentidos: para viver neste mundo é necessário não ser daqui. Sim, essa é a saída. Se você entrar no jogo, já assina a sua derrota. Seu coração não pode ser daqui, assim como a sua alma.

A fé emociona e nos faz chegar tão perto do Mestre e das forças regentes ao ponto de abraçá-los. Ela rejeita teses e grandes sábios, pois ela só quer se manifestar. Em um sorriso, em um abraço ou num elogio matinal. Ela dispensa doutores, afinal rejeita egos. Ela escolhe os pobres, mansos e humildes, porque os que buscam tantas "notas" acabam cegos por elas. 

Existem teimosos que insistem em rejeitar a fé. 10% é tão pouco. O Mestre fala em vida plena. E ser pleno é ser 100%. As vezes escondemos a graça com medo de virar piada ou chacota. Normal para uma sociedade que crucifica justos todos os dias. 

Confesso que ando com medo de religiões. Não por elas, mas pelas pessoas que entram e estragam tudo. O Mestre é livre-arbítrio, não é árbitro. Não existe expulsão, reserva ou cara e coroa para ser inundado de paz. Assim como o amor, a fé requer tolice. Seja bobo para entender que cada amanhecer é mais uma chance. Bobo para entender que a palavra pode emanar de um sorriso. Bobo para que o cantar do seu próximo inspire e aqueça seu coração. 

A grandeza está no espírito, pois ele não nos limita. Estranho os invencíveis acreditarem só na carne. O sabor da vida está naquilo que se pode provar para além dos sentidos. A fé faz a alma brilhar, talvez por isso tantas almas estejam apagadas. 

"Tua presença é tão clara" 
Gratidão - Adoração e Vida

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Mais um texto sobre segunda-feira


Gratidão.: palavra aparentemente inofensiva que vem se popularizando ao longo da história. Há dias que é difícil agradecer, tudo parece não estar certo. Mas só parece. Segunda-feira é um dia chato pelo simples fato de nos fazer pensar. É um reencontro semanal com tudo aquilo que prometemos realizar e não cumprimos. É como colocar nossas falhas no mural da firma e ser considerado o "pior funcionário do mês". 

Olha eu aí querendo ser pessimista. Onde está o lado bom disso tudo? Qual o motivo desses astros desencaixados e dessas luas cobertas por nuvens? A sensação é de que sempre existe alguém atrapalhando o espetáculo. Uma palavra "maldita", um texto não justificado, a jura secreta que vazou, a luz que brilha e ao mesmo tempo ofusca. Acho que demoramos muito tempo para descobrir que nada é perfeito. 

A vida é aquela eterna aventura do porquê de tudo isso. É apostar todo dia na bolsa de valores, de sentimentos e de amores. A gente sempre tem prejuízo, mas insiste nisso tudo porque é bom demais. O ciclo está confuso. O medo aflora. Mas qual seria a missão humana além de viver? "O barato é louco" e nem sempre a oportunidade nos pega corajosos e prevenidos. 

Observem: ninguém reclamou de setembro que anda ao mesmo passo de agosto. Viu como tudo é mística? Qual primavera será florida em nossos corações? Qual cor será a primeira da nossa aquarela? A cada dia tenho mais certeza de que o ano começa quando acaba. Eterno seja o gênio que fragmentou o tempo. Agora um link com a gratidão do começo: mesmo na confusão da dúvida seja grato pelo tempo. A sensação de incerteza é a certeza de que ele ainda não acabou. UFA! 

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Tenho tendência para a desordem

Registro da desordem que é escrever.
Curiosidade: a maioria dos versus vem do papel :) 
Que loucura 
Não me acho 
Toalhas  molhadas 
Cama
Limpezas por fazer

Livros 
Sem catálogos 
Ausência de estilo
Autores perdidos
Assim como eu 

Na poesia 
Vejo dificuldade 
Oh, não!
Não quero viver de prosa
"X" da questão

Já não se faz mais: 
Gênios idênticos 
Musas do verão
Florentinas de jesus
Nathashas 

Cito nomes
Sem pessoas 
RG's sem almas
Números vazios 
Infinitos gigantes 

Caos 
Desordem
Furo na fila do pão
Organiza isso aí!
Um coro de não

Desordem múltipla
De peito
Alma 
E coração
Estou sem memória

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Quando a vida se torna um programa de TV no sábado

As coisas andam tomando um rumo engraçado. Pareço eternamente viver sob pressão. Um sentimento estranho de quem vai ao programa do Luciano Huck e vende a alma para ganhar o prêmio. Pela manhã estou no "Soletrando", soletro b- o- m- d- i- a quase que inultilmente. Ninguém responde, ninguém escuta. É como se o aúdio da minha cabine estivesse falhando. 

Mais tarde é a vez do "Agora ou Nunca". Nesse quadro vivo em um eterno ensaio. Algumas coisas estão mais pro nunca, apesar de sempre preferir o agora. Loucura, loucura! A cada passo me vejo distante dos 10 mil reais. A minha vida parece estar no auditório, com cara de decepção e resmungando: olha o que essa louca faz comigo!

Aí vem o carnaval. Vejo ao longe uma oportunidade de ser musa do meu próprio bloco. Não me encaixo bem nos requisitos. Tenho um forte carisma, porém sou pouco equilibrada para os saltos. É, o equilíbrio não é muito o meu forte. 

Por fim, participo do "Lata Velha". Tento com afinco uma recauchutada. Preciso alinhar algumas coisas, fortalecer a luz do farol, comprar um  step. Vejo que também é hora de melhorar os freios. Com tanta coisa pra arrumar, me pergunto se esse carro tem jeito. 

Olha só, que fase! Tão jovem e já entregue aos programas de sábado na TV. Dividir a vida em quadros é uma ótima estratégia. Nos dá a sensação de que tudo se consegue com muito esforço. Es- for- ço. Eu sempre detestei essa palavra. Passa longe de elogio e esconde certa incompetência. Não se esforce. Isso quase sempre nos leva a afogar sonhos.

A vida está passando e não está dividida em quadros. Não quero me esforçar para pensar no que poderia ter sido. Por isso meu próximo passo será mandar uma carta para o seu programa. Como começarei a carta? Ainda não sei. Mas pode ser algo do tipo: "Você perdeu 10 mil momentos incríveis por estar apenas se esforçando". Eu tenho um convite "Chorão": vamos viver e vadiar? O que importa é o sorriso. Como diria o Fred: um sorriso ou dois :))

Trilha sonora: "Como é que eu troco de canal" - Vida Real (Engenheiros do Hawaii)

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Me apaixonei pela sua banda

Spoiler: essa história poderia ter tido um final feliz. 

Eu era uma fã como todas as fãs. Apaixonada, meio cega e defensora de incapaz. Esse último é algo engraçado e curioso. Sempre achamos que nossos ídolos são incapazes de se defender e eu achava isso da sua banda. Achava que mesmo sendo uma desconhecida, eu era a fã que você precisava. Eu elogiava as suas roupas, por mais estranhas que elas fossem. Assistia prontamente as suas sugestões de filmes, ouvia a sua playlist no spotify, retuitava absolutamente tudo e de uma maneira meio louca minha timeline se confundia com a sua. Eu e a tua banda, nosso mimetismo. 

Eu sempre fui de observar. E isso me fez ser uma fã diferenciada. Eu olhava além dos outros, eu exaltava tua personalidade com referências científicas. Tudo que eu falei de você tem base em livros, jornais e enciclopédias. Quando produzirem uma biografia da tua banda, me chama. Eu quero fazer essa última coisa por você. Esse é meu último pedido para algo que envolva nós dois. 

Eu observava. E foi assim que aos poucos pude ver a minha banda caindo nas paradas de sucesso. A sua não, só crescia. Novos fãs, turnês, autógrafos. Eu ali no camarim, tímida. Tão necessária quanto 10 toalhas brancas e bem dobradas. Você me usava e jogava pra galera, dizia que era importante dar além de um bom show para quem tanto esperava pra te encontrar. Foi sendo assim, até que...

Eu pirei. Na maionese, na batatinha, no nugget. Eu pirei total! Coisa de colocar câmera escondida, microfone na caneta e cheirar gola de camisa. No fundo a gente sempre sabe quando vai encontrar algo que não quer saber. É assim em toda banda, quem sonha com carreira solo fica naquele marasmo. Nega para imprensa e pra si mesmo, mas nunca engana um verdadeiro fã. 

Eu sabia. Eu sabia das tuas pretensões. Lembro do primeiro chopp pós-show, naquele barzinho da praia. O sol já estava despontando e você confessou que não nasceu pra ter banda. Achava muito chato ter a imagem ligada à um monte de gente. Ter que depender de arranjos alheios e ter que apresentar todo mundo no fim do show. Fiquei meio frustrada, mas preferi esquecer. Aquela coisa de fã...

Daí pra frente veio a nossa derrocada. Na verdade, foi a minha mesmo. Eu não aceitava minha banda se desfazendo. Quando te olhei no Faustão com aquela nova formação, meu coração ficou em pedaços. Foi a maior videocassetada da minha vida. Aquele soco me fez chorar diante da minha 32 polegadas. Era o fim de um ciclo. Um fim que eu não escolhi. Nunca vou me perdoar por não ter conseguido fazer você esticar o contrato. Mas agora eu ando por aí dando conselhos. É o que eu digo: nunca faça de uma banda a sua vida! 

Trilha sonora: "Foi-se o tempo em que nós dois..." - A Estrada - Phill Veras. 


segunda-feira, 20 de julho de 2015

Como não falar de amigo


A gente perde muito tempo comemorando coisas que não fazem sentido. Tantas datas criadas para aquecer o comércio, poucas datas criadas para aquecer o coração. Existe um culpado? Por muito tempo somos educados para amar o capitalismo, aí vem uma fase de desconstrução. Começamos a odiá-lo um pouco, mas aí o ódio esfria e voltamos a amá-lo a pleno pulmões. Mas agora, diferente de uns anos atrás, nós ficamos em um joguinho de morde e assopra, ama ou não ama. Porém olhamos nossos guarda-roupas e eles explicam tudo com um silêncio sepulcral. É, nós amamos.

Todo esse papo furado é pra falar do dia do amigo. Uma data que eu não sei bem em qual categoria se encaixa, mas que aflora sentimentos engraçados. Faz tempo que sou surpreendida nesse dia, sempre tem uma pessoa que me "marca" como amiga e me deixa sem jeito e sem chão. Não sou de colecionar "amigos" e me acho um ser humano com pouco tato para afagos e provas de amor. O fato é que acredito que o cosmo explica um pouco disso pra mim. Tem gente que nasceu pra ser mãe, tem gente que nasceu pra estudar, tem gente que nasceu pra ser amigo...E assim as peças se encaixam e fazem desse mundo louco algo menos hostil e tenebroso.

Ai de mim se não fossem os amigos! Aqueles de uma noite animada e visceral. Aqueles que conheci na fila, os que me contaram sua história pelo simples acaso de dividirem a cadeira alta do ônibus comigo. Ai de mim se não fossem os seus casos e acasos, as mensagens desesperadas, os lanches divididos, a terapia "familiar" na ágora. Ai de mim se me entregasse mais e acreditasse realmente na doação de corações unidos por caminhos de vida. Não é fácil ser amigo. Amizade não é fácil. Como um turbilhão de emoções poderia ser fácil como baliza? Não tem c o m o!

Entregue aos refrões e músicas do gênero, canto com Lamy um pouco inutilmente: "não dou pitaco no barraco de ninguém..." Ilusão de quem se acha pouco envolvido em relações que não dependem mais de nós. O clubinho, as falsianes, os que esculacham mas esperam para almoçar junto, os que dividiram a xerox, oferecem café, tomam cerveja em plena segunda-feira. Os que sambam junto, ouvem um bom rock, indicam novas bandas, os que moram no mesmo teto, quem te deu a vida, quem chegou pra somar. Mulher, larga esse egoísmo. Não tem mais volta, tu tens amigos. 

*foto do filme "Um momento pode mudar tudo" - ótima sugestão e tapa na cara para o dia de hoje. 

domingo, 21 de junho de 2015

Uma pergunta muito simples


“- Agora pra gente terminar uma pergunta muito simples: Clóvis, o que é a vida?

[Pausa] - A vida é uma condição de energia que busca mais energia, potência em busca de

potência.

- Clóvis o que é a vida?

[Pausa] - Intervalo de tempo em que uma energia dura com alguma consciência que acredita que ser alguma coisa.

- Clóvis o que é a vida? [Pausa] Essa pausa é Tchecov né? *

- Dor e sofrimento, se você preferir... Afinal de contas eu não me lembro de ter sofrido antes de nascer e tenho a nítida impressão de que não sofrerei depois de morrer.

- Tá... Bem. Quando a coisa começa a ficar metafísica eu paro de falar sobre o assunto. Eu quero terminar com você me dando uma resposta que você queira dar... Clóvis, o que é a vida?

- ... ”

* Alusão à “pausa dramática”, conceito que é ligado ao escritor e dramaturgo Anton Tchecov.

[Trecho final da entrevista concedida pelo filósofo Clóvis de Barros Filho no programa Provocações, no dia 23/09/2014, apresentado pelo diretor de teatro e ator Antônio Abujamra na TV Cultura.]

Decupagem de Filipe Castelo Branco

segunda-feira, 1 de junho de 2015

É hora de perder o voo


Até agora não sei o que falar desse filme. Não sabia se escolhia prosa ou poesia para explicar uma madrugada de domingo bem aproveitada. Começou o filme, atraso no voo. Eu realmente tive que respirar fundo para acompanhar o "timing" desse casal. É sempre bom assistir gente que vai direto ao ponto. Diálogo cansa de vez em quando. Não se assuste com a pegada "cala boca e me beija". 

Lembrei das aulas de Maria do Carmo. Bauman passeando...Somos produtos do espaço. É incrível perceber como a cidade reflete quem somos. Ou vice-versa. A gente projeta a cidade a cada passo, a cada esquina e a cada happy hour que acaba colocando política na mesa. 

Sonhos contaminam. Para o bem e para o mal. É necessário aceitar que existem pessoas que não pensam no amanhã. Tem gente que vive o hoje e é muito feliz. Acredite! O que significa ser promovido? Ganhar uns dinheiros e perder mais vida? Não sei. E um diretor de criação? Existe mesmo? Imagino a criatividade seguindo fórmulas matemáticas e só visualizo um acidente lá na frente. 

A cidade não para. É um fluxo preso. Estamos sempre diante de uma sobrevida. "Ponte Aérea" é uma crônica sobre o amor, o tempo e o não-dito. Há um oxigênio preso. O "eu te amo" está na garganta. A cada declaração de amor alguém perde o voo e se salva para sempre de um terrível acidente. 

Assistam essa porra! 

Trilha sonora (presente no filme): "Você e a Brisa" - Dimitri BR e Cristina Flores
"A brisa faz carinho"

terça-feira, 26 de maio de 2015

Desculpa ligar


- Alô?
- Oi.
- Não entendi a ligação.
- Eu também não entendo.
- Já vai começar com teus jogos retóricos?
- Nunca me dei bem em jogos, nem me lembro da última vitória.
- Isso não importa muito. Afinal, nos perdemos juntos.
- Nossa, era eu quem gostava de jogos retóricos.
- Estranho escutar tua voz. Faz tempo que aposentamos o diálogo.
- É, eu cansei de só digitar.
- Quer continuar conversando?
- Você sabe que não sei dizer não. 
- Quando eu desligar você vai ficar pensando na gente?
- Você partiu e deixou minha vida como um telefone fora do gancho.
- Como assim?
- Já não ligo pra nada e permaneço ocupado pensando na gente.
- Bela comparação!
- Péssima hora pra escutar tua voz.
- Contigo não existe hora ruim.
- Desliga primeiro.
- Acho que não temos mais idade pra joguinhos juvenis.
- Vou desligar!
- Naaaaaão!
- Quer continuar jogando?
- Teu jogo me vicia. 
- Sempre parece má ideia te ligar.
- Concordo.
- Vou dormir pensando.
- Poderia dormir agindo.
- Hmmmm
- Faz um favor: não me liga!
- Sério?
- Muito sério. Não ocupa mais a minha linha sem a intenção de ficar. 
- Nossaaa! Tudo bem.
- Teu jogo é viciante, mas amar é muito mais. Decidi fazer amor e rasgar os joguinhos. Me joga contra a parede, joga tudo na minha cara, joga as cartas na mesa, joga limpo. Quando for capaz, me procura.
- Eu sabia que ligar seria ridículo.
- Nada é mais ridículo do que fingir "não ligar".

Trilha sonora: Pelo Interfone - Cícero

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Inquietações de Maio

Realmente não é fácil tentar acertar. Fico imaginando como o mundo seria lindo se as pessoas deixassem claro o que desejam. Não entendo todas essas relações baseadas no não-dito, que só servem para minar nossa convivência. Engraçado essa inversão de valores onde é "bravo" ser falso. Deve ser por isso que as pessoas andam se assustando tanto com a verdade. Dói tanto saber que alguém gosta de você de verdade? Dói dizer que já não existe interesse? Dói dizer que errou?

A vida está cada vez mais dependente de pequenas mentiras que se tornam grandes negócios. A tristeza é gostar tanto do mundo e vê-lo caminhando para um espaço inabitável. Ainda bem que existem conversas libertadoras, abraços sinceros e saudades com desejo de volta. Para viver aqui é preciso ser viajante. Não é possível amar no mesmo lugar. Bom mesmo é ter alma no sorriso e sonhos nas mãos. 

Trilha sonora: "A Rede" - Lenine


terça-feira, 31 de março de 2015

Amores nunca são platônicos


Afinal, o que é verdade? A maior discussão da ciência ou um falso consenso? Certamente a verdade está longe de concordar com o amor. Amar exclui a ciência e suas possibilidades. Amar é entrega, sem taxas. É um mergulho sem bomba de oxigênio, onde a única certeza de vida é encontrar amor lá embaixo. Mas então, o que o platonismo tem a ver com tudo isso? Quando amamos platonicamente somos verdadeiros. Vivemos um amor sem ambição, onde nada é pedido em troca. Apenas damos graças por um ser existir e nos permitir sentir admiração e ao mesmo tempo suspirar por qualquer movimento, palavra ou atitude. 

Amor platônico é a essência da doação. É a alegria gratuita, mesmo que na ausência. É a admiração que exclui os defeitos, mesmo não sabendo direito quão terríveis eles podem ser. Amar de forma platônica é ser meio louco. É desejar além do toque. É nunca se frustar com a mensagem que não chega. É seguir os passos sem perguntar o caminho. É apenas ir. Sempre em frente.

Por que não amamos sempre assim? É tão gostoso. Fazer planos e mais planos, falar sem a cobrança de escuta, amar pequenos detalhes. Hoje em dia as pessoas só amam quando se conhecem além da conta - que caretas! O gostoso dessa história é quando um guerreiro sai para batalha e escancara esse amor utópico. "Cara, sabia que eu te sigo?". Não é coisa de Instagram, é de seguir pela vida. Admiro tuas mechas brancas, teu romantismo e esse olhar de galã. Eu te sigo. Sem a cobrança de trocar likes, mas é bom te ver existir.

"Cara, sabia que eu te observo sempre". Esse jeito frágil de mentira. A nerd mais apaixonada que eu conheço! A fala compassada de quem fala com conhecimento de causa. A facilidade de encantar com gestos. É, eu também te sigo. E assim descobrimos que amor platônico é autoconhecimento e por isso exige coragem. Podemos casar platonicamente, pois amar assim é reconhecer que a paixão dispensa verdades absolutas. Vamos casar desse jeito: sendo um casal de platônicos. Cerimônias e longos namoros nunca vão nos convencer. Amar é pra já. E platonicamente nos temos pressa. 

quarta-feira, 25 de março de 2015

Quando a gente agradece


Um dia a gente agradece. O livramento ou esquecimento. As várias idas que não foram e as juras secretas que se tornaram mentiras confessadas. Um dia a gente agradece o beijo roubado, a mentira sincera, os tantos "nãos" para um "sim" valer a pena. Pena, que pena! Hoje pago a pena por ser tão leve e móbile.

Um dia a gente agradece. Pelo simples respirar. O "bom dia" do motorista, a felicidade do guri. Um dia a alma afaga e a gente agradece por não ter sido "nós". Dois desatados em desalinho. Um dia a gente agradece pelas memórias...

segunda-feira, 9 de março de 2015

Mulher, não. Puta mulher!

Mulher
Que coisa és tu?
Já não cabe em planilhas
Dispensa os bons modos

Apavora quem sonha dominar-te.

Quem és tu brisa serena
Ou furacão no mar de ressaca
Cortou as saias
De aquarela pinta a boca
E no mundo pinta o 7


Quem és tu menina ousada
Que ousou responder e descobriu a voz
Centro de si, equilíbrio da alma
Escolheu subir no salto quando quiser
Cansada das rasteiras da vida


Quem exige beleza em tuas curvas
Não conhece tuas facetas
Que fazem de lixo luxo.
Entre abusos de poder, abusou.
Abusou do silêncio, e hoje grita.


Não por histerismo, chilique ou TPM
Grita por direitos
“Sentar, quicar e rebolar?”
Nunca foi tão puta
Puta da vida, puta de si
Uma puta mulher!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Bicho sentimento


Sinto muito
Sinto tudo
Bicho de sentimento
Terceira lei de Newton

Sentido
Vejo poucos agora
Sinto não ter jeito
Já não sinto brisa, só tempestade

Meu desespero é sentir
Que sinto só
Ou que não sinto o mesmo
Sinto muito!

Sentir que a paisagem não muda
Sentimento de angústia
Lamúria de quem sente
Pouco inocente (sente) culpa

O mundo gira
Me excita
Compasso gostoso
Ninguém gosta de brochar

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Não deixa ar


Eu não sei rimar. Não sei esperar. Passo para não olhar. Me perturba qualquer que seja o ar.

Não sei conviver com o suspiro. Quero tudo muito logo. Me interessa o desatino. Não gosto de me acostumar.

Quando vejo o costume, já desenho o sofrimento que vem. Já me vejo na cena posterior. A película que me fará desacostumar.

As palavras sempre me exigem sofrimento, gelo e um pouco de álcool. Parece não ser possível passar por aqui sóbrio.

Se isso gira...eu quero ser tonto.

Deixa que eu vire teu rosto pra te beijar. Gosto das coisas pegadas. Gosto de trocar suor.

Não me importa tua pele pouco uniforme. Essa barba por fazer. Que cada vez que tu coças me tira do tédio.

Não deixa ar. Sufoca. Minha vontade e desejo de mais.

Embalados a vácuo - só assim seremos felizes. Se é que um dia isso existiu.


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O conto do quase

Estou em busca de conexões novas. Sem abandonar o velho hábito de me presentear com momentos só meus. As pessoas tiram não sei de onde, o direito de machucar corações. Sou bem ruim de legislação, mas sei que esse crime acontece. Às vezes é sem querer. Sem a intenção de matar. Mas dedo no gatilho nunca aponta pra coisa boa. 

O fato é que sou daquelas pessoas que a gente abandona no altar. Pra mim parece o ápice do amor. Mas quando menos espero, me deparo com uma carta de recomendação na geladeira: por favor, desista de relacionamentos. Eu considero carta, mas na verdade é um bilhete. (que falta de consideração!) Saiu de casa sem gastar comigo ao menos um dedo de tinta na caneta. (que fase!)

Foi embora sem fazer barulho no portão. Sorrateiro e maligno. Pensando bem, quem sempre gritou aqui fui eu. Dona da bagunça, eu puxava a roda. Quando eu não metia o pé, não tinha samba. Belo covarde! Vai em silêncio, mas deixa meu juízo aos gritos.

O erro do intenso é procurar boa sombra. Quem entende tamanha vontade de viver? Quem pode segurar planos tão lapidados? Na arrumação da bagunça, às vezes não tem espaço pra mais um. Ainda mais se ele é artigo de decoração. Prefiro um ventilador de teto bem barulhento...ao menos deixa uma brisa quente ao rodar.

Eu não aceito, não aceito não...ver mais um quase indo embora. Vai entender, talvez foi por isso. A gente quase não se via, quase não se falava, quase sorria, quase se completava. Como vovó diria: se não fosse o "quase", a gente "era". Até que foi "era". Era uma vez, dois quases...

Trilha sonora: "Quase nada" - Zeca Baleiro

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Bilhete de rodoviária


Descobri-me um pouco rodoviária
Cinza, estranha e incomum
Momentos de vai e volta
Coisa de quem deixa ou não saudade

Um terminal com falhas
Panes de sistema e erros graves
Bilhetes fora de hora
Choros sem lenços e tchau

Lembrança vaga e forte
Coisa de quem viveu se despedindo
Sempre tão perto do longe
Rodada em rodoviárias

Todo mundo ali é um pouco triste
Todo mundo é triste quando é acostumado
Lanches e presentes ao fundo
Background de quem vai longe

Pinceladas de rodoviária
Vida agitada com muitas emoções
Quem eu amo nunca esteve tão perto
Hoje eu sei amar...só de longe!