quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Aquela janela não é só janela


Tenho observado o prédio ao lado do meu. O acender e desligar das luzes. Parece que de alguma forma eu conheço aquelas pessoas. As que desligam tudo depois da novela, as que acordam às 5 e fazem muito barulho. Gente que ainda usa lâmpada amarela e tá pouco se lixando pra conta de energia.

Em qualquer lugar que estamos procuramos uma rotina. O que seria do ser humano se lhe fosse tirada a capacidade de repetir coisas? Eu assisto tudo se repetir. E nesse momento repito o olhar para a mesma janela que se encaixa perfeitamente ao meu ângulo de humana de bruços, olhando o horizonte à procura de sentido.

Aquela janela me lembra eu mesma. Me lembra vida longe e perto de mim. Me lembra que a luz é um dos nossos primeiros condicionamentos. Me lembra que alguma hora é preciso dormir. No outro eu me vejo. Apesar de deslocada e sem muito tesão. Em cada janelinha enquadrada, vejo que sobreviver é enfeitar prisões.

Quando falo da minha janela, vejo olhos brilhantes de alegria. "Nossa, olha a janela estranha. Ela não tem hora para desligar". A existência também é um parâmetro. Uma janela só é diferente, se todas as outras forem iguais. Há beleza nisso. Há angústia também.

Trilha sonora: "eu não gosto do bom gosto, eu não gosto do bom senso...não gosto".
Senhas - Adriana Calcanhotto.

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