quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Me apaixonei pela sua banda

Spoiler: essa história poderia ter tido um final feliz. 

Eu era uma fã como todas as fãs. Apaixonada, meio cega e defensora de incapaz. Esse último é algo engraçado e curioso. Sempre achamos que nossos ídolos são incapazes de se defender e eu achava isso da sua banda. Achava que mesmo sendo uma desconhecida, eu era a fã que você precisava. Eu elogiava as suas roupas, por mais estranhas que elas fossem. Assistia prontamente as suas sugestões de filmes, ouvia a sua playlist no spotify, retuitava absolutamente tudo e de uma maneira meio louca minha timeline se confundia com a sua. Eu e a tua banda, nosso mimetismo. 

Eu sempre fui de observar. E isso me fez ser uma fã diferenciada. Eu olhava além dos outros, eu exaltava tua personalidade com referências científicas. Tudo que eu falei de você tem base em livros, jornais e enciclopédias. Quando produzirem uma biografia da tua banda, me chama. Eu quero fazer essa última coisa por você. Esse é meu último pedido para algo que envolva nós dois. 

Eu observava. E foi assim que aos poucos pude ver a minha banda caindo nas paradas de sucesso. A sua não, só crescia. Novos fãs, turnês, autógrafos. Eu ali no camarim, tímida. Tão necessária quanto 10 toalhas brancas e bem dobradas. Você me usava e jogava pra galera, dizia que era importante dar além de um bom show para quem tanto esperava pra te encontrar. Foi sendo assim, até que...

Eu pirei. Na maionese, na batatinha, no nugget. Eu pirei total! Coisa de colocar câmera escondida, microfone na caneta e cheirar gola de camisa. No fundo a gente sempre sabe quando vai encontrar algo que não quer saber. É assim em toda banda, quem sonha com carreira solo fica naquele marasmo. Nega para imprensa e pra si mesmo, mas nunca engana um verdadeiro fã. 

Eu sabia. Eu sabia das tuas pretensões. Lembro do primeiro chopp pós-show, naquele barzinho da praia. O sol já estava despontando e você confessou que não nasceu pra ter banda. Achava muito chato ter a imagem ligada à um monte de gente. Ter que depender de arranjos alheios e ter que apresentar todo mundo no fim do show. Fiquei meio frustrada, mas preferi esquecer. Aquela coisa de fã...

Daí pra frente veio a nossa derrocada. Na verdade, foi a minha mesmo. Eu não aceitava minha banda se desfazendo. Quando te olhei no Faustão com aquela nova formação, meu coração ficou em pedaços. Foi a maior videocassetada da minha vida. Aquele soco me fez chorar diante da minha 32 polegadas. Era o fim de um ciclo. Um fim que eu não escolhi. Nunca vou me perdoar por não ter conseguido fazer você esticar o contrato. Mas agora eu ando por aí dando conselhos. É o que eu digo: nunca faça de uma banda a sua vida! 

Trilha sonora: "Foi-se o tempo em que nós dois..." - A Estrada - Phill Veras. 


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