terça-feira, 26 de maio de 2015

Desculpa ligar


- Alô?
- Oi.
- Não entendi a ligação.
- Eu também não entendo.
- Já vai começar com teus jogos retóricos?
- Nunca me dei bem em jogos, nem me lembro da última vitória.
- Isso não importa muito. Afinal, nos perdemos juntos.
- Nossa, era eu quem gostava de jogos retóricos.
- Estranho escutar tua voz. Faz tempo que aposentamos o diálogo.
- É, eu cansei de só digitar.
- Quer continuar conversando?
- Você sabe que não sei dizer não. 
- Quando eu desligar você vai ficar pensando na gente?
- Você partiu e deixou minha vida como um telefone fora do gancho.
- Como assim?
- Já não ligo pra nada e permaneço ocupado pensando na gente.
- Bela comparação!
- Péssima hora pra escutar tua voz.
- Contigo não existe hora ruim.
- Desliga primeiro.
- Acho que não temos mais idade pra joguinhos juvenis.
- Vou desligar!
- Naaaaaão!
- Quer continuar jogando?
- Teu jogo me vicia. 
- Sempre parece má ideia te ligar.
- Concordo.
- Vou dormir pensando.
- Poderia dormir agindo.
- Hmmmm
- Faz um favor: não me liga!
- Sério?
- Muito sério. Não ocupa mais a minha linha sem a intenção de ficar. 
- Nossaaa! Tudo bem.
- Teu jogo é viciante, mas amar é muito mais. Decidi fazer amor e rasgar os joguinhos. Me joga contra a parede, joga tudo na minha cara, joga as cartas na mesa, joga limpo. Quando for capaz, me procura.
- Eu sabia que ligar seria ridículo.
- Nada é mais ridículo do que fingir "não ligar".

Trilha sonora: Pelo Interfone - Cícero

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