segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Meu eu morango

Alguns dias de ócio, mente vazia (em tese). Engraçado que a mente nunca vaga sem direção, sempre tem um ponto de fuga, um cais, um lugar onde ancorar. O ser humano nega, mas é tão influenciável. Uma música, uma foto, um cheiro (...) Tudo isso faz desnortear, perder o foco, mudar de humor. Somos tão sensíveis, feito morangos no nordeste. 

Esses mesmos morangos, petulantes na grandeza do vermelho, no tamanho, no sabor, mas que escondem a fragilidade de tanto cuidado para chegarem pelo menos a durar. Tanto cuidado pra tão cruel destino: serem comidos. Mas feliz é o morango, ainda que no triste fim é capaz de proporcionar prazer ao devorador. Com chocolates então, hmmmm, é uma delícia. Não ia falar de morangos, vejo agora que sou humana, perco o foco e sou influenciada, mas é por uma boa causa.

Paro em uma reflexão: quanto mais ansiosos somos por uma vida elétrica, alucinante e sem lei, mais nos escondemos do que existe lá no fundo e nos pede pra parar. Quanto mais ansiamos por multidões, lá dentro existe um desejo de singularidade ou quiçá uma solidão de dois. Onde há julgamentos, por vezes excessivos, de que o mundo está errado, muitas vezes é só o desejo de que tudo fosse como a gente quer.

Desejos, desejos, desejos, nada mais humano. Tão humano quanto sucumbi-los. Ainda há um segredo nessa máquina que nem mesmo sei o fio da meada. Uma espécie de "start" que aciona tudo aquilo que me faz viva, ansiosa e pulsante. Acho isso muito bom, talvez seja tão bom que nem mesmo o desejo saciado possa superar.

Agora lembrei-me dos morangos...e que humanos morangos. Existe algo mais humano que morangos? Não estão disponíveis todo tempo, são frágeis, mas com uma camada de agrotóxico se tornam terríveis. Essa mesma ainda abriga o que temos de melhor, mas para deliciar-se é preciso morrer um pouco.

Nossa, realmente somos morangos. Um dia tão caros e no outro não passamos de uma promoção (...)

Trilha sonora: "Porta-retrato" - Roberta Campos

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