terça-feira, 24 de outubro de 2017

Parabenizando essa cidade



É assustador viver a vida que você sempre quis ter. A corrida sempre é mais interessante antes chegada, não é a toa que o resultado é apenas um resultado. Você é responsável pelo sonho. Por aquilo que eu sempre quis viver desde 2010, quando mesmo em um bacharelado eu sonhava em ser professora. O "onde" era só um detalhe, eu sempre quis viver isso independente do lugar. Eu sempre entendi que a terra é um adereço, pois o que vale mesmo é o que a gente constrói em cima dela. Eu sempre fui um ser humano de malas feitas e poucos pré-requisitos, acho que essa é a herança de uma família meio nômade e desapegada. 

Fui em direção ao sonho, já falava disso todo dia. Pra todo mundo seria só uma consequência das tardes que a gente falou desse assunto na ágora. Eu arquitetei meu agora naquele vento, naquela hibridização de gente, naquela pessoa que eu era e hoje ainda sou, mas não igual. Sonho é uma coisa louca e exige deslocamento. Eu desconfio que se o seu sonho se limita ao lugar que você está agora, ele não é mais tão sonho assim. Sonho exige pelo menos ir na padaria. Sem movimento é complicado sonhar. 

Cheguei com medo e depois fui ficando cansada. Olha que engraçado, eu não estava dando nenhuma chance para o meu sonho se concretizar. Eu queria pessoas que não podiam estar aqui, me apegava nelas como responsáveis pela minha alegria, sociabilidade e amor. Não sabia que a gente pode construir amor em novas trincheiras, ou talvez soubesse mas não queria arriscar. Me libertei da minha própria árvore genealógica até aqui e me dei a chance de cultivar novas mudas. 

Árvores. Aqui temos muitas. Tudo arquitetado para que o calor não nos mate. Elas não necessariamente balançam, mas quando chega a primavera e a gente passa pelos parques, entende a poesia que existe no cerrado. Me identifico com esse bioma de uma forma peculiar. A gente é seco mas tem bom coração. Esconde surpresas e faz nascer água. Há poesia em viver um sonho no cerrado. Nessa falta de previsão onde tudo pode acontecer, assim como no desbravar de uma vontade que você sabe que não vai passar. 

Um pouco daqui já ficou em mim. Não sei se foi a terra, a comida, a gente, o jeito do campo que vira cidade. Não dá mais pra esconder que já me transformei um pouco no meu sonho. Sempre serei grata ao chão que me permitiu ser mais eu, ao povo que me fortaleceu e também me ensinou a ser frágil. É na cidade que a gente se mostra e se esconde. Já falei lá em cima que não sou muito de pré-requisitos, mas a partir de agora eu vou ter um: tem que entender "uai" pra ser meu amigo. 

Cada um deseja parabéns de um jeito e eu tenho tentado me entregar ao máximo. Não quero que nos falte nada, porque sonho só é realidade quando a gente se lambuza. Aqui encontrei trigo e fermento para crescer um tanto. Envelheci, amadureci e me infantilizei ao mesmo tempo. Te mudei, me mudei e cresci. Cheguei ao centro para desequilibrar. Desculpa não comer pequi, mas amor também é não aceitar tudo. Meus versos agora estão marcados por ti. Pelos amores que me oferecestes, pelas noites frias e pelo sonho que me permitiu viver.

Trilha Sonora: "ê, goiânia. não deu pra segurar a barra então eu voltei!!!"

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